domingo, 29 de outubro de 2006

O dia inspira...

Sempre evitei o assunto política. Talvez por sabê-lo polêmico, motor de grandes brigas e discussões que, vá lá, raramente produzem efeito produtivo, talvez por simplesmente não possuir cacife para falar de tal. Gosto muito de política, mas não sei de dados numéricos, reais, daqueles que os envolvidos com grandes partidos e movimentos têm conhecimento. Não sei quantos milhões um investiu em educação, o quão sustentável é a prática econômica do outro. Ou seja, minha ideologia política, como a de muitos brasileiros, é feita na base da observação, com a limitada abrangência que minha visão permite. Convido-os a analisar os últimos quatro anos de Brasil sob a minha ótica facilmente "estereotipável" e, como já explicado, simplória, porém, verossímil.

Nas últimas eleições, presenciou-se uma batalha travada desde que a democracia retornou às mãos do povo: Lula versus a "direita". O operário sem um dedo, representante da massa pobre e explorada, versus a elite político-intelectual do país. Por toda a década de 90, Lula veio perdendo esta batalha. A direita veio, por sua vez, realizando uma gestão neoliberal, de mercado, detestada por uns e amada por outros.

Em 2002, porém, a chama da esperança - desenvolvida, especialmente, sobre as cinzas do mal-sucedido segundo mandato de FHC - manifestou-se nas urnas, elegendo o militante do PT após doze anos de amargas derrotas. Ao vê-lo discursar no Planalto Central, em sua posse, confesso que lágrimas quase escaparam pelas arestas de meus olhos. Será que aquele homem, o qual considerava um louco, desgovernado político, poderia trazer novos ares à política brasileira?

Será que ele viria para sanar problemas não meus, mas problemas da grande maioria do povo brasileiro - que, acho eu, FHC já vinha solucionando de forma gradativa -, povo esse que sofria com impostos, desemprego, desigualdades, insegurança, e uma intensa miséria localizada em regiões como o Nordeste (que, ao contrário do que a esquerda diz, é um produto histórico, não da "direita do Sul e Sudeste")? Enfim, até mesmo para os que, como eu, torceram e votaram no candidato tucano José Serra, e o viram perder para Lula em 2002 no segundo turno, a vitória do ditocujo puxou, de nosso íntimo, um naco de esperança.

Mas a esperança e a história da esquerda brasileira foram manchadas. Escândalos de corrupção, quedas de investimento estrangeiro, estagnação das economias locais, explosão de importações, falhas incomensuráveis na política externa, sucateamento na educação, entreguismo político com relação ao solo nacional, nepotismo. Enfim, quase tudo o que Lula julgava abominável, foi, em seu mandato, intensificado ou mantido. Salvo alguns bons momentos de seu governo - como a medida paliativa, porém, necessária, do Bolsa Família -, a gestão do "homem de palavra" foi marcada pela repetição de práticas detestáveis na política nacional.

Após a descoberta da máquina montada pelo PT de Lula para comprar políticos no Planalto Central, seguida de incontáveis denúncias e demissões de ministros e vizinhos de gabinete do presidente, esperava-se que o povo brasileiro, no mínimo, atentasse para estas questões antes de votar, mais uma vez, movido pela emoção. Mas não. Lula está virtualmente reeleito até segunda instância. Meus amigos todos estão calados. Meu país está calado.

Meu compromisso cívico, pessoal, não é com o PSDB de Alckmin. Não é com o PT de Lula. Nem com as vendidas noções de esquerda e direita que, por ignorância, ainda permeiam nossas decisões políticas. Meu compromisso é com um voto consciente, pensando no melhor para o meu país, que já foi ridicularizado e rebaixado aos olhos do mundo e precisa ganhar novo gás na política. Como disse acima, sempre evitei o assunto política, por não me arriscar em um terreno que não domino. Mas agora, amigos, venho lhes falar da minha política, a que rege meus dias, meu juízo e a minha consciência, e essa eu domino como ninguém. E essa nunca, nunca iria reeleger Lula, ou a estrelinha vermelha que ele coloca no canto direito de seu logo. Eu quero um exemplo de decência, e vou arriscar em mudanças, de quatro em quatro anos, até achá-lo. Quem quer fazer o mesmo comigo?

São 12:47. Daqui a cerca de dez horas, saberei se valeu a pena escrever isto, Discutir com Deus e o mundo, com o diabo a quatro, resmungar para vocês (que dificilmente estarão lendo isso hoje, dia 29 de Outubro de 2006) enquanto as votações correm lá fora, os passos apertam e gente como eu continua aqui, remoendo-se em inconformismo.

E já chega, vou almoçar. Tenho fome.

Abaixo, um texto que deixei no meu Orkut que, acredito, eu, é oportuno ao momento:

"Amigos, é hoje. Por favor, respeitem a si mesmos. Respeitem seu país, a moral e a ética: acima de tudo, respeitem o cargo a ser decidido. Ele é feito para gente preparada, não só no sentido acadêmico, mas no emocional, psicológico, partidário e filosófico. O ato de exercer gestão política vai muito além de ideologias e bandeiras: é, antes de tudo, um compromisso com o coletivo e com o paradigma moral.Votem em quem quiserem, enfim. Contanto que estejam prontos para arcar com as devidas conseqüências."

José Augusto Mendes Lobato

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Car Blues

Você o quebra. Ou tenta. Retalha com um grito, encarcera ele em um sorriso. Mesmo assim, não o suporta. Foge dele pela inconstância de sua imaterial e fugaz instância. Pede por ele, quando os tímpanos já não suportam o caos e a poluição generalizada do ambiente, quando as cordas vocais desistem de fazer ouvida a voz de um homem.

Mas longe dele você cresceu. E sem ele irá morrer.

É. Quem aí lembra da última vez em que ficou em total, completo, absoluto, silêncio? É difícil. Seja uma música baixa posta enquanto está no banho, seja o barulho da rua, seja um passarinho cantando na janela, um tiroteio no bairro vizinho, uma televisão. Seja o caralho a quatro correndo pelo corredor da sua casa. Não nascemos para parar no tempo e no espaço, dizem os velhos. O mundo corre, e como corre. Eles não sabem de nada. Nós é que na crescente correria vivemos. E da crescente desordem somos concebidos. Portanto, dela e de seu barulho somos parte.

Cerrar os lábios e ouvir o zumbido perturbador de um segundo em silêncio é o medo de todo homem pós-moderno. É incomum, desarma. Não somos preparados para encarar o vácuo sonoro, nem que seja por uma boa causa. Antes o grito, o esporro, do que um olhar penetrante. Antes os punhos cerrados em histeria do que um minuto perdido em linhas escritas. Como completos animais, deixamos de lado a beleza do subjetivo em prol da agilidade e primariedade de uma expressão genérica como o ato de produzir barulho.

Já não disse a psicologia que somos animais forçados, por regras comuns de convívio, a engolir instintos? Minha teoria é derivada dessa: o silêncio é uma poética regra de educação, consigo e com o mundo, e vai contra nosso mais grosseiro íntimo. O silêncio é desinteressante para nós, homens primários e regressos: é anticomunicativo e pede demais da mente atrofiada de um homem enjaulado na selva de pedra.

Não há espaço para refletir, abstrair, quando estamos tragados na correria cotidiana. No caos. E não há razões tácteis para abandonar o caos. Afinal, tudo parece seguir em, perdão o paradoxo, estável desordenação. Portanto, nada de sentimentalismo. Nada de "calar e ouvir". Sempre falar, e de preferência mais alto, caso queira ser ouvido pelo próximo. Pense sempre em si e nos seus interesses. Ignore o que caras como eu dizem, e nunca - eu disse nunca! - pense na sua vida como uma sucessão de barulhos, trancos e barrancos. De lacunosos momentos que, quando postos lado a lado, confirmam o que Deus e o mundo já sabem:

A vida moderna não faz sentido. O homem moderno não faz sentido.

Afinal, ninguém aqui está querendo ver mais um jovem de vinte e poucos anos se jogando da janela do seu quarto. Não leve nada disso muito a sério, e continue, por favor, evitando o silêncio. Longe dele você cresceu. E sem ele você irá viver mais, muito mais. Acredite.