segunda-feira, 19 de maio de 2008

Por que odiar Belém? (Parte I)


Prefácio: Um pouquinho de história

Hoje, cheguei à conclusão de que Belém é uma cidade fadada ao fracasso. Calma, antes que os ferrenhos defensores da Cidade Morena, das Mangueiras, da Chuva das Duas, do Carimbó, do Ver-o-Pêso, do Vatapá, do Pato no Tucupi e do diabo a quatro, venham me atacar com cruz e alho, deixemos uma coisa clara: eu já pensei muito antes de chegar a esta conclusão. O problema é que, como veremos adiante, pensar não é uma coisa lá muito belenense – mais difícil, ainda, é que os belenenses compreendam o pensamento de quem pensou por eles, sobre eles e para eles. Parece preconceito, pretensão? Vocês ainda não viram nada...

Primeiramente, vamos a nosso objeto de estudo: nossa cidade, esta metrópole de 1,5 milhão de habitantes, natureza farta e clima ultra-tropical. Fundada em 1616, situada em posição política e geográfica estratégica aos portugueses, foi, como todos os demais centros de atividade colonizadora, convertida de aldeia aborígine em cidade Barroca num piscar de olhos. À eterna sombra das bellas villas européias, foi administrada por algumas pessoas meio deslumbradas (uns mais lunáticos do que visionários, é verdade, mas todos levemente desorientados), e, à força, ganhou cara de cidade grande.

O começo se deu na chamada Cidade Velha (termo engraçado, nunca vi um local ter o nome de ‘velho’ e, de fato, parecer tão velho), onde os portugueses nojentos dividiam seu tempo entre traçar índias e dar ordens a seus “súditos”. Mandaram levantar um monte de igrejas por aqui, impuseram o cristianismo como quem manda o filho escovar os dentes de manhã (nada contra a crença em si, sou católico), e começaram a extrair recursos naturais e vender lá fora a preço de ouro. Ou seja: a coisa já começara a feder.

O sexo, a bebida e a completa falta de instrução/ educação dos portugueses (e não dos índios, coitados, que podiam dar aulas de bons modos àqueles broncos) fez com que, rapidamente, uma sociedade mestiça ascendesse entre o monte de mato, água e barracos fétidos que era a Belém do período colonial: nosso povo começava a se constituir, junto ao de demais regiões como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Apesar da desgraça, tínhamos tudo para crescer bem: éramos um povo sorridente, que sabia se expressar e detinha uma das terras mais abençoadas do mundo. Mas tudo desandou, em algum ponto da história que economistas, sociólogos e antropólogos da região devem saber delimitar melhor do que eu.

Enfim, o tempo passou, e a tal região do Grão-Pará começou a ficar para trás. Quando a colônia viu que, aqui, não tinha muita coisa para explorar, começou a se dar a colonização por terra rumo ao interior do Brasil. Lá, acharam coisas legais. Descobriram que os 37 graus à sombra de Belém eram facilmente esquecidos nas cidades frias do Sudeste, e que lá, de quebra, ainda havia uma boa concentração de gente, serviços e novidades vindas da Europa junto com a família (ir)real portuguesa. Mas e daí, se aqui estávamos na Amazônia, local belo, frutífero, maravilhoso e exótico? Daí que, à luz da decadência do escravagismo e do colonialismo pós-feudal no Ocidente, os portugas queriam modernidade, luz (para ficar num termo iluminista), progresso. E, se havia um lugar longe dessa frescurada toda não chegava, era aqui, na nossa fascinante ilha urbanóide em plena selva.

Novamente, repito: estudiosos especializados podem explicar tudo isso melhor do que eu, portanto fiquemos no senso comum. A economia estagnou-se, não havia ciclo exploratório à vista para a região e, claro, os que por aqui ficaram começaram a foder entre si. Foderam, foderam e foderam, e os milhares de proto-belenenses começaram a se multiplicar indefinidamente. Em pouco tempo, já nos aproximávamos da primeira centena de milhares vivendo na linha do equador – enquanto isso, cidades como São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro cuspiam gente, fumaça semi-industrial e avenidas largas para todos os lados.

No início do século XX, os intendentes da geração Antônio Lemos resolveram dar um upgrade na cidade: chutaram os pobres pra longe do Centro, idealizaram Batista Campos (nosso pequeno reduto de bucolismo amazônico-francês) e Nazaré (aquele dos piores decibéis de poluição sonora da cidade), construíram as belas formas de nossas praças e montaram grandes palácios. De quebra, a arquitetura da cidade ganhou toques franceses e estéticas misturebas – por outro lado, o nível de alfabetização dos belenenses estancara, a saúde pública (já) era um caos e, veja só, o povo já demonstrava apatia. Aceitaram a expulsão, aceitaram ir morar em bairrinhos pútridos e lamacentos para ceder espaço à ascendente (ou decadente, dependendo do ponto de vista) burguesia da borracha. Nasciam, aí, os embriões de nossos queridos cenários policiais: Jurunas, Guamá e, falando mais recentemente, Terra Firme, Bengui (vulgo Bengola), Pratinha e Tapanã.

Enfim. Passaram-se dez décadas, um regime militar, alguns governos arbitrários, outros populistas, e chegamos ao seguinte quadro: Belém de IDH positivo, mas à beira do “rebaixamento”, socialmente defasada, cheia de analfabetos (mesmo que funcionais) enclausurada-fechada-alienada à própria cultura, afundada em pobreza, violência e calor (sim, as ilhas de calor dos arranha-céus desproporcionais a uma cidade abaixo do nível do mar tornaram o “inferno” de 30 graus cada vez mais inóspito à humanidade), muito calor. Tudo isso retrata uma cidade que, para ser bem simples e direto, parou no tempo. Ou melhor: uma cidade que é uma merda. Mas isso, claro, é típico de países in development, não é?

Seria. Hoje 100% reconstruída (vocês devem saber que a Belém que temos diante de nossos olhos é produto dos anos 1750 pra cá, né? Tudo que foi construído antes desabou na primeira chuvarada de março), vivendo uma fase, para dar uma de pseudointelectual, pós-moderna, com leves traços de uma belle èpoque rota contrastando com edifícios de 40 andares, crianças e travestis acotovelando-se no centro histórico e moradores da periferia vivenciando 15 ocorrências policiais por dia, Belém é, enfim, o que toda grande cidade do Hemisfério Sul deve ser: uma grande cagada. Mas o que faz de seu caso um caso perdido – principalmente, o que me faz odiá-la, mais do ter nascido aqui, ter sido criado aqui, estudar, comer, dormir, mijar e cagar aqui, não é fazer parte de sua desigualdade latente, seu atraso estrutural, sua falta de oportunidades de crescimento econômico, pedagógico e cultural; enfim, nada disso – o que me nauseia são as pessoas.

Ah, as pessoas e sua cultura nojenta, safada, viscosamente metida a espertinha! Quem mora aqui há mais tempo e não vive numa bolha sabe do que estou falando. Belém tem no âmago da sua desgraça sua cultura, se é que devo usar essa palavra no lugar de gente. Belém e sua gente não prestam. Falo de gente muito, mas muito peculiar. Gente que, espero, não haja igual no mundo, senão estamos todos fodidos e é melhor jogar uma bomba atômica no meio do Atlântico para alagar as cidades abaixo do nível do mar, como Belém. Só me dói ter que afundar Nova Iorque, Veneza e todas as ilhas paradisíacas americanas junto – mas seria tudo por uma boa causa, não? Enfim, a partir de agora, pretendo levar-lhes, de forma pouco sucinta e bastante prolixa, a uma viagem por alguns acontecimentos interessantes que, numa linguagem bastante “tablóidica”, balançaram a opinião pública (mentira, senão não teria de lembrá-las a vocês) nas últimas semanas em nossa cidade e podem delinear, como nunca, o profile sócio-cultural do belenense. Parece que foi tudo premeditado, obra de alguma força divina que queria que eu escrevesse este pequeno grande emaranhado de resmungos, mas tudo aconteceu de forma seqüencial e serve de exemplo para a minha seguinte tese (a qual, espero, alguém mais inteligente e menos pretensioso do que eu possa transformar em um estudo verdadeiramente embasado e imparcial, digno de doutorado e tal): Belém é uma grande bosta fracassada. Mas, mais do que ela, são 90% de seus moradores.

I. O inimaginável dia em que dinheiro roubado foi “pro pisão”

Todos devem lembrar da singela brincadeirinha do “pisão” – aquela, na qual a gente jogava desde bolas de gude, tazos e peças raras de lego até revistinhas de sacanagem e fotos da irmã para o alto, e quem as pegasse primeiro no chão poderia declarar-se dono –, não é? Geralmente entre meninos de oito a doze anos, a coisa consistia em uma forma, digamos, institucional de pegar o que não é seu, deixar levarem o que é seu – e, enfim, compartilhar com os outros o prazer de ter o que não é seu e perder o que era seu. Quase uma síntese do jeitinho brasileiro.

Pois é, a prática, que exala hormônios e cheira a vontade de pegar a irmã do amigo no meio das “oferendas”, geralmente é abandonada quando o adolescente descobre que, nesse mundico louco em que a gente vive, a melhor coisa é esconder ao máximo nossas aquisições para evitar possíveis roubos e espertezas – mas Belém, Belém é um caso à parte, é uma cidade na qual não apenas não se tem auto-respeito e educação social, mas na qual também pode ser encontrada uma total falta de senso de coletividade, humanidade e civilização.

E, antes que vocês pensem “O que diabos essa história de ‘pisão’ tem a ver com os tais acontecimentos que esse cara prometeu nos apresentar para dizer que nossa cidade natal é um fracasso?”, vamos deixar tudo às claras: um roubo frustrado, seguido de pseudo-tentativa-de-sequestro, praticado em Belém no último da 27 de março, transformou-se em um gigantesco e assustador “pisão” de dinheiro roubado que foi entregue pelos bandidos a reféns, disputado fervorosamente por um monte de selvagens alucinados por notas de dois e cinco reais. É: exatamente, isso mesmo. Dinheiro roubado, no “pisão”. Disputado por belenenses (ou ananindeuenses, que diferença faz? Está subentendido que nós estamos falando da Região Merdopolitana como um todo) despidos de qualquer razão.

De agora em diante, conto com o apoio documental da reportagem feita por minha colega de trabalho no Jornal Amazônia Ângela Gonzalez, que acompanhou de perto a cagada toda e fez uma matéria factual para o caderno “Polícia” do dia seguinte. Por volta de 12h30, um ônibus da linha Jibóia Branca – Ver-o-Pêso (eu pegava esse maldito para ir à universidade! Juro!) foi invadido na Br-316, altura do Líder Br, por dois típicos belenenses level 666 (leia-se: topetinho dourado, menos de 25 anos, ficha criminal superior a três páginas do Word e apelidos no diminutivo, como “Dentinho”, “Cocozinho”, “Loirinho” e “Assassininho”), armados e desesperados. O motivo: tinham assaltado uma empresa no bairro da Guanabara (ou Guanabala), e fugiam, veja só, de ônibus. A cena já poderia ser chamada de tragicômica, um take ultradramático digno do programa “Aqui e agora” (SBT) – não fosse o fato de que os assaltantes resolveram manter os passageiros reféns, após a chegada de um Corolla repleto de policiais à paisana que passaram pelo local e sentiram o clima de fuga da bandidagem.

Daí em diante, quem passa por aquelas redondezas entre o meio-dia e as 16h, como eu, teve de enfrentar um engarrafamento quilométrico, desde o final da Almirante Barroso até depois do viaduto de entrada da Cidade Nova; tudo porque, sentindo que estavam fodidíssimos, os dois figuras – Bruno da Silva Araújo, 18 anos, e Danilo Odilardo Borges, 21 (repare a idade) – resolveram render todo mundo e pedir a presença de um familiar, da imprensa (here we are again, baby!) e de um juiz (?!?). Não sei bem ao certo o por quê dessa tríade, mas sabe-se que a polícia só conseguiu levar um juiz de Ananindeua ao local por volta das 14h30, depois de uma jovem de 12 anos ficar com uma arma apontada à cabeça por horas a fio, sentindo o bafo de cachaça dos caras na nuca.

Cumpridas as exigências, a “dupla de dois” (como diria o “Diário Polícia”) liberou a jovem, o coitado do motorista e foi levada à Seccional da Marambaia. Seria o ponto final de mais uma estorieta urbana de nossa Belém pós-contemporânea (!), mas não – alguma merda maior tinha que acontecer, para figurar nos anais do coletivo belenense, e, por quê não?, dar todo um toque de humor negro àquela dramática tarde chuvosa. O negócio foi o seguinte: no intuito de deixar para trás possíveis pistas do assalto, a dupla de assaltantes decidiu desistir de levar o dinheiro para casa. Como não havia lugar melhor para largá-lo, eles decidiram enfiar as notas nas bolsas, mãos e carteiras dos passageiros (entre eles, a coitada da menina de 12 anos) – tudo sob o olhar vigilante dos milhares de populares que se concentravam no local (falando nisso, esse termo “populares” é outro recheado de pano na manga para discutir, mas, infelizmente, aqui não vai dar; quem quiser sacar melhor a idéia dos populares, é só ir atrás de uma crônica – sen-sa-cio-nal! – que o Luís Fernando Veríssimo fez sobre o assunto).

Pasme, caro leitor, que quando os reféns desceram do coletivo com a grana em mãos para entregá-la aos policiais de prontidão no local, a população voou em cima. Quando digo “voou”, não é figura de linguagem: há imagens guardadas nos arquivos da Tv Liberal, nas lentes dos fotógrafos do Diário do Pará e Amazônia, que mostram a deplorável cena dando as caras após o caótico incidente. A menina de 12 anos (de novo ela, vocês devem estar achando que gostei dela ou algo assim), perto de entregar o valor à polícia, teve de ser isolada em um cordão para não ter o mesmo destino de dois outros reféns, que foram arremessados ao chão e, novamente, roubados, por terem declarado em voz alta que tinham dinheiro proveniente do assalto dos bandidos espalhado pelos bolsos, sacolas e objetos pessoais. Considerando, sei lá como e com que prerrogativa, que estava tudo “no pisão” – já que a bandidagem tinha deixado seu tesouro para trás, e que representantes da loja roubada pela manhã não estavam ali por perto – o povo caiu de boca na grana, rasgou camisas, deu pontapés, empurrões, disputou notas e, pelo visto, esqueceu que tudo aquilo era produto de um assalto. De um crime, que havia retirado os lucros de um trabalho honesto, desenvolvido por pessoas de bem dali a algumas quadras. Tudo isso diante dos olhos atônitos da polícia.

Quando vi esta cena surrealística rolando na televisão (já no dia seguinte, depois que minha namorada afirmou ter visto a coisa toda no jornal noturno da data do assalto, me “sugerindo” assisti-la na próxima repercussão), lá no ambiente gélido, impessoal e quase seguro (minha chefe já foi pessoalmente ameaçada por grileiros do Sul do Pará) de redação do jornal, senti a primeira pontada de vontade de escrever este texto. Vejamos: quando afirmei que a desgraça de um local é definida por sua própria cultura, na introdução desta estorieta, tinha em mente mostrar-lhes que a pobreza de espírito e a ausência de qualquer senso de coletivismo ou política de boa vizinhança são capazes de tornar esta cidade, que já é uma merda devido à sua própria história social, numa verdadeira terra de selvagens. Ah, as pessoas... novamente as temos como a base de toda a barbárie e desgraça. Fazem como ditadores arbitrários e transformam as anomalias dessa super-estrutura louca – gente de bem como eu e você – em espectadores de um espetáculo grotesco.

Lembremos da pobreza, da marginalização histórica da cidade: Belém é uma metrópole cheia de contrastes. Num mesmo ônibus, há deste “Dentinhos” e “Goelinhas” até estudantes universitários carregando livros de Habermas, Trotsky e Sérgio Buarque – desde Motorolas V3 até aqueles celulares “tijolão” que podem ser encontrados em sebos a dez reais. As mesmas linhas que passam pela zona de risco da Br-316 fazem percursos pelas ruas (outrora) dóceis de Nazaré e Umarizal, levando jovens riquinhos à zona da bandidagem e vice-versa. No caso deste assalto, calhou dos bandidos quererem fugir de ônibus (fazer o que? Estão roubando justamente para pagar a gasolina e poder charlar com o Chevette rebaixado!), e terem diante de si um monte de populares metidos a espertalhões.

Ali, à beira da estrada, não faltava gente louca por uma lasquinha, uma mísera nota de dois reais para inteirar o ingresso do PopSom no domingo, ou mesmo um gole de cachaça na banquinha ao lado. Quando viram o assalto e sentiram que a polícia estava preocupada com outras coisas – como o deplorável estado psíquico dos passageiros, ou a reabertura do trânsito na Br-316 –, não houve qualquer hesitação em meter a mão no dinheiro. Teve até um moleque de 16 anos que foi detido após sair do enxame humano com um bloquinho de notas de R$ 2. Quase um “inho” da vida...

Esse tipo de caso serve para ilustrar nós, os belenenses. Esses símios reduzidos às necessidades fisiológicas comer-foder-dormir, que ainda conseguem absorver os perigosos ideais da vida moderna de aquisição e cobiça, levando-os a atos como o daquela tarde de 27 de março. Fora a malandragem (outra palavra que merece extenso debate à parte, mas pode ser melhor explicada por Antônio Carlos Almeida ou Roberto DaMatta), fora o jeitinho (idem), fora a pura e simples filha-da-putice velada em sorrisos desdentados, nós, os belenenses, os amazônidas tribais vestidos a rigor em nossas ruas e cenários proto-urbanos, ainda temos a capacidade de agredir uns aos outros com atos criminosos disfarçados.

Não há nada mais criminoso do que tomar para si dinheiro roubado; não há nada de pior gosto do que assaltar uma pessoa que passou horas como refém; não há nada pior do que desrespeitar os agentes da lei diante dos próprios; não há nada pior do que ignorar o drama passado e acotovelar-se, às risadas, diante da dinheirama deixada pelos ladrões; não há nada mais ridículo do que lutar por algumas dezenas de reais enquanto não se estuda ou trabalha suficientemente para pagar as próprias contas e ocupar o tempo livre, que é gasto no dia-a-dia, assistindo a crimes escabrosos de camarote. Acima de tudo, não há nada mais criminoso do que fazer consigo o que, jamais, você esperaria de qualquer pessoa que lhe deve respeito ou, no mínimo, indiferença. Roubar dinheiro que já foi roubado. É foda demais ou não é? Ah, Belém... são regras básicas!

Por favor, hipócritas de plantão, não venham me recriminar e dizer que basta dar educação a nossos jovens ou conceder-lhes oportunidades palpáveis de sustento financeiro e satisfação profissional: se fosse assim, não haveria assassinos, pedófilos e broncos de quinta categoria em países economicamente highbrow, como os Estados Unidos e a Suíça. A questão, aqui, refere-se a uma inegável e deprimente pobreza de espírito, algo produzido durante séculos de submissão e servilismo aos interesses exploratórios, alimentado pela crescente institucionalização do jeitinho como alternativa à norma e à lei durante os anos 1900. O buraco é mais embaixo: somos, do ânus ao último fio de cabelo, produtos de uma psyché, de um esprit du temps, muito do seu torto – e incurável sob as atuais circunstâncias.

Enfim, amigos, em uma coisa dentre tantas baboseiras, vocês hão de concordar: não há pobreza ou miséria capaz de justificar uma prática que vai contra quaisquer noções de bom senso e civilização: você guardaria para si um dinheiro que lhe foi entregue por algum bandido? Seja na Câmara Federal, seja no improvável cenário de um ônibus parado em plena hora do rush na Br-316, ou mesmo em uma reunião de negócios, é melhor que você responda não sem parar para pensar nessas horas. Caso contrário, você é um merda e faz parte desses 90% que transformam nossa capital (e nosso estado como um todo) em uma porcaria de uma terrinha fétida e sem lei. Como afirmei acima: belenense odeia pensar mesmo...