quinta-feira, 11 de março de 2010

Dez impressões sobre SP

Passados uns dias desde a chegada a São Paulo - um mês e 15 dias, mais precisamente -, já deu para perceber um monte de coisas sobre a cidade. Não que não a conhecesse - mas morando, vá lá, é bem mais fácil perceber os prós e contras de sair de Belém (deixa saudades, ok) e se enfiar numa lata de sardinha de 20 milhões de habitantes. O post é clássico (creio que todo migrante o publique uma vez na vida), clichê até, mas necessário. Não só para tirar a poeira do blog e dar notícias - não sei ao certo para quem -, como também para dar uma pausa nas leituras cabeçudas do mestrado. Vamos a algumas percepções:

1. Paulistas são mais educados que paraenses

Ah, essa eu já imaginava. Mas confirmei desde o primeiro dia na Cásper Líbero: fui bem atendido pelos funcionários (só lembrei dos bibliotecários bem humoradíssimos da Unama), uma acolhida nota dez. Enfim, não só lá, como nas lojas, órgãos públicos, cinemas, restaurantes, e tudo o mais, as pessoas sorriem quando te atendem, ajudam o quanto podem e - ahá! - não fazem cara de dor de barriga quando você pede favor. Ninguém joga lixo na rua, todo mundo cata o cocô do cachorro... todo mundo esculhamba se você não o fizer. Até os órgãos e serviços públicos são mais organizados e arrumadinhos (o metrô que o diga, mas disso falo mais adiante). Único ponto negativo vai para a SP Trans, que atende o povo aqui na Vila Mariana num buraco quente, sujo e pequeno demais para o mar de gente que se acumula por lá. Eu e Mayara passamos uns 40 minutos à espera de atendimento no meio da rua. Mas ninguém rouba sua vez na fila. Só lembrei de Belém...

2. O trânsito é um lixo, mas as pessoas se comportam no volante

Falando em educação, acredite: aqueles engarrafamentos de 150 km que a gente vê na TV não são culpa dos moradores. Ao menos não diretamente. O excesso de carros e as ruas caóticas complicam tudo, mas eu já peguei alguns engarrafamentos (um na Marginal Tietê às 12h, inclusive) e não vi um carro sequer buzinando em 1h40. Nenhumzinho. O povo anda nas faixas certas, dá passagem para todo mundo - chega a irritar - e dificilmente se estressa, assim como evita dirigir "cortando". A única exceção são os motociclistas, desgraçados como em qualquer canto do mundo. Mesmo assim, para quem discorda, há uma alternativa: usar o transporte público, infinitamente melhor que o de Belém. Eu, por exemplo, só dirijo nos finais de semana - e olhe lá.

3. As ruas não têm qualquer sentido

Trânsito de novo. Bom, essa é uma visão negativa, só para ninguém dizer que só faço puxar o saco de SP. Enfim, é fato que, se até morador se perde dirigindo por aqui, era óbvio que eu também sofreria do mesmo problema. E o que deu pra ver foi que, de forma geral, as ruas conseguem ser ainda mais nonsense que em Belém. O sentido delas muda de um quarteirão para o outro - quase causei uma catástrofe numa dessas -, o trajeto que seguia para o sul de repente vai para o leste e tudo o mais. Nas marginais, então, todo erro é fatal, literalmente. Mas pelo menos a sinalização é ótima - tem placa em tudo que é canto, dizendo como chegar nos bairros e etc. Não é à toa que consigo dar umas voltinhas por aí (sem usar GPS, porque a grana anda rala).

4. A cidade é menos perigosa

Prestem atenção, não disse segura. Parece brincadeira, mas uma cidade de 20 milhões de habitantes consegue ser bem menos assassina que Belém. Tem uma pesquisa na internet que já me confirmava isso - mas, agora, senti a diferença no dia-a-dia. O povo fala no celular no meio da rua, dirige de vidro baixo, responde a dúvidas de pedestres (mesmo que só os dois estejam na rua) e sai à noite de metrô. Logo que chegamos, perguntei ao segurança do hotel em que ficamos (no Paraíso) para perguntar se dava para andar na rua àquela hora. Eram 23h de domingo, a rua estava vazia - e o cara disse "claro, fiquem tranquilos". Uma pergunta: em qual rua de Belém você pode dar segurança ao turista? Na Braz de Aguiar? Claro que é preciso tomar cuidado e não ir bater uma bolinha no Capão Redondo, no Grajaú ou algo do tipo, mas enfim... se no Umarizal morrem 15, 20 por ano, na Vila Mariana morreram 2 de forma violenta em um ano inteiro. É isso.

5. O transporte público é insuficiente, embora organizado e limpo

Sou claustrofóbico, isso pode ter influído na conclusão acima. Mas, porra, quem gosta de ser esmagado no metrô às seis da tarde, depois de 7 horas de aula? Só me lembrei de quando voltava da Unama de ônibus no primeiro ano da faculdade - enfiado numa lata de sardinha calorenta e fétida. Pois é: os ônibus, trens e metrôs daqui não chegam a ser assim; não tem ninhos de barata entre os assentos, nem cheiro de cecê da semana passada. O metrô, em especial, é muito limpo, seguro e leva para boa parte dos locais importantes da cidade. Mas é preciso evitar horários de pico e linhas como a Vermelha (já sabia disso desde os tempos de turista). Tem gente demais para poucas linhas, poucos vagões, pouco espaço. Dizem que, com a inauguração da linha Amarela, a coisa vai melhorar nas outras. Por sorte, temos linha Verde e Azul perto de casa. Espero sentado - ou melhor, de pé.

6. O clima é completamente louco

Não, não vou reclamar do clima daqui. É bem melhor do que o hell on earth das manhãs de 35 graus de Belém. Mas é vero - do dia para a noite, literalmente, a gente troca a sunga pelo moleton. E olha que ainda não passei invernão por essas bandas. Chegamos aqui em pleno final de verão. Chuva e temperatura de 20 graus à noite. Uma semana depois, calor seco e temperatura lá pelos 30, 31 graus. Passou o carnaval e caiu novamente. Teve um dia que ficou entre 17 e 20 graus (!). Agora, inferno de novo - a Mayara está tendo que passar manteiga de cacau nos lábios, de tão desértico que o negócio ficou. Sabe a previsão da mulher do tempo? Joga no lixo. Mais fácil perguntar para um nativo que confiar nos órgãos de meteorologia. Ah, e tem um clichê tão válido quanto a chuva da tarde em Belém: sempre, sempre ande com uma roupa de frio escondida na mochila.

7. Paulista não sabe usar subjuntivo

"Cê quer que eu pego?", "Cês quer que traz logo?", "Eu quero que cê faz assim"... urgh. Quem diria que boa parcela dos moradores de uma das cidades com maior nível de educação básica do país falaria sem usar o subjuntivo? Olha que não sou professor de língua portuguesa, mas certas coisas incomodam. Dizem que o português do maranhense e do paraense é o melhor do Brasil; sinceramente, não duvido mais. Nas lojas, nos bares e até naquelas conversinhas que você inevitavelmente ouve no meio da rua, as conjugações erradas imperam. Isso sem contar o gerúndio (e ainda tem gente que implica com o falar cantado do Nordeste). Se já tinha orgulho do nosso sotaque, carregado e autoral na medida certa, agora é que o uso com mais convicção...

8. Comida, gasolina e roupa são mais baratas

Sad but true. Até fruta amazônica consegue ser mais barata aqui em SP. Fazer compras, seja de roupa, seja de gêneros alimentícios, não é tão desesperador quanto em Belém. O esquema é saber pegar os dias de liquidação, em que o quilo da carne sai pela metade e uma roupa de frio sai por R$ 40. E prestar atenção na oscilação de preços, que é bem comum. E a gasolina... ah, a gasolina. Procurando legal dá para achar postos vendendo da comum a R$ 2,39., até R$ 2,34. E não é adulterada: a polícia cai de pau em quem dilui combustível. Lembro dos tempos em que torrava uns 20 reais por dia - já que não existe transporte público em Belém - e abastecia pagando R$ 2,89 (essa foi a última tabela que vi antes de me mudar, já deve ter aumentado). Aqui, se gastar R$ 100 no mês inteiro, é muito. Leveza no bolso e no volante.

9. Os supermercados de Belém são melhores

Isso me surpreendeu. Achava que o Líder, com seus preços nada módicos e suas atendentes bocejantes, eram o que de pior havia no ramo no Brasil. Que nada: vem pro Extra, pro Pastorinho, Carrefour ou o que quer que seja. A única exceção é o Pão de Açúcar, frequentado por gente, como diria um delegado de Belém, do alto staff. Para começar, não tem empacotadores: você mete tudo em saquinhos sofríveis (sempre arrebentam) enquanto se desdobra para checar a nota fiscal, meter tudo no carrinho e passar o cartão. Além disso, as filas são intermináveis e os estacionamentos vivem lotados. Já fui às 12h de segunda-feira e encontrei o supermercado socado de gente. Outro problema é que, por conta da demanda absurda, sempre tem produtos em falta. Demoramos semanas para achar presunto de peru nos supermercados daqui.

10. É uma cidade boa de se viver

E, para finalizar, o momento puxação de saco: SP é, sim, um lugar ótimo. Depende apenas dos interesses de quem para cá se muda. Já fui mais intransigente - questionava quem me dizia que queria viver em Belém o resto da vida, que não se imaginava morando fora do Pará, etc. e tal. Hoje já entendo, até porque não é fácil suportar o ritmo de SP. Trânsito louco, correria, fumaça, empurra-empurra... tem que haver alguma ligação sentimental e/ou financeira (no meu caso, as duas) com a cidade para aturar isso tudo. Se for preciso enumerar qualidades, além das que estão acima, lembremos do clichê: vida cultural assegurada, serviços de todo tipo, a toda hora (o Burger King é a bênção!), muita coisa para se fazer... e, no meu caso, ensino de qualidade. Nunca tinha tido aulas como agora. É nisso que penso quando bate aquela saudade imensa das pessoas, dos lugares que deixei. O investimento vale a pena.

5 comentários:

Filiblog disse...

Aeeeeeee

eu tb acho q vou ter impressões parecidas q as tuas de SP.

Mas, nao acredito q suportaria mais do q 3 ou 4 anos por aí...

Camila Barbalho disse...

Saudade louca.

Camila Barbalho disse...

(de vcs e de São Paulo)

Anônimo disse...

Sou aluno de Jornalismo da Unama e já ouvi falar de você na universidade. Fala mais do teu mestrado. É igual aula da universidade?Ele é pago? Você ou seus pais que pagam? Tenho muitas dúvidas sobre mestrados.Gosto muito dos seus textos.

Ass: André Rodrigues

Guto Lobato disse...

Opa! Comentários são sempre bem vindos =)

Faraon: acho que vais ter impressões parecidas, sim. Até pq creio que tens ideia de levar o mesmo estilo de vida q eu levo aqui hehehehe. tranquilo, mas no meio do caos. mas eu suportaria o resto da vida por aqui aeiohaeaeh

André, o mestrado tem um regime um pouquinho diferente do de aulas. São menos horas presenciais, mas MUITA coisa pra ler e fazer. 3 disciplinas por semestre, por exemplo, é pesadíssimo - eu n conseguiria trabalhar ao msm tempo, eu acho. É mais caro que a Unama - uns 300 paus a mais -, mas o mais caro é custear a vida por aqui. Ainda mais desempregado!!! eheuheuehueh. abraço!