segunda-feira, 20 de março de 2006

Três pedras - Redoma de Papel Pt.3

Dessa vez prometo tentar fazer deste espaço algo prático. Algo pequeno. Um cantinho só meu, mas que qualquer um possa sentar, ler e saber do que se trata. Prometo também que não vou mais perder meu tempo tentando consertar algo que, há tempos, deixou de ser consertável. E mais: serei um novo tipo de ficcionista/cronista/seja lá o que for. Metalinguístico? Já o sou. Dramático? Talvez já o seja. Revoltado? Sim. Pessoalista? Vez ou outra. Cansado? Também. Cansativo? Aposto que sim. Mas a grande mudança vem agora. Prometo deixar de me defender de algo que não me atinge.
Hoje passei o dia lendo teorias marxistas. Ideais revolucionários, lutas de classes, revanchismo antiburguês, Comunismo libertário, "ditadura do ploretariado"... muitas profecias que ainda não se concretizaram. Uma mente brilhante, usada para o bem da humanidade. O cara nasceu, cresceu e viveu para representar a contracultura de tempos aparentemente prósperos, foi uma voz dissonante na multidão que aclamava a desigualdade... e ainda é chamado por muitos de louco. Nunca se sabe, meus amigos. Eu mesmo tinha esta idéia na cabeça, como se Marx fosse mais um utópico. Após alguns minutos de leitura, descobri que estava errado. Continuo não o venerando, mas agora o entendo, o admiro por seu trabalho e sua vida... e o respeito, principalmente.
Quem sabe muita gente já não tenha passado por aqui e lido uma coisa e interpretado outra? Quem sabe alguém nem leu nada e saiu às ruas com três pedras? Quem sabe eu esteja na mira dessa pessoa e de todas que a "veneram"? Vai saber.
Mas chega de perder meu tempo com isso, como se minha vida dependesse das interpretações das pessoas. Penso assim, pra ver se dou um ponto final. Me sinto mais tranquilo, e esqueço das entrelinhas que às vezes são cuspidas sem intenção. Serei mais prático, enfim. Esta é a última promessa que devo deixar no papel. Prometo abrir o peito e receber as três pedras, queimar na fogueira, receber com um sorriso a baixaria silenciosa de cada olhar que levo nas ruas. Vou sentar em um canto e tocar violão, e que ouça quem quiser a música a se propagar no ambiente que criei com o simples intuito de exercitar minha escrita com um quê de pessoalismo. A poesia? Está em outros cantos, eu sei. Prometo afiná-la sob os mesmos conceitos.
Nem pessimismo, nem devaneios me descrevem, afinal. Sou outro cara fora das palavras. Sou mesmo. De reflexivo, questionador, realista, sincero - agressivo, se assim o interpretam -, me torno um cara feliz, despreocupado e até mesmo bobo. Mas nunca,nunca oposto àquilo que penso e, por consequência, escrevo. Nunca. Não adianta vir com pedras, palavrinhas, textículos virtuais e acusações vãs. Ninguém me sustenta além de mim mesmo.
Além da verdade, a realidade que aqui se reflete.
Fecha-se esse ciclo que tenho consciência de que nunca abri.
Desta vez com convicção, te digo
Ponto final.

José Augusto Mendes Lobato 20/03/06

terça-feira, 14 de março de 2006

O Insustentável Saco-Cheísmo Do Ser

"Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece" - Algum ser iluminado por aí

Eu odeio provérbios. Que esteja bem claro isso. Mas esse aí tem contexto. No mais, tudo é mais do mesmo. Minha vida, encaminhada prazerosamente. Vou muito bem, obrigado. Mas... perfeição não dura muito, isso é vero. Sempre se acha um lugar novo para se coçar. Ultimamente, deram para coçar minha paciência, com chatices indescritíveis em palavras castas. Ei, você: sabe o que é ser perseguido? Estar em paz, no seu canto, e do nada receber uma cutucada de alguém que mal você se lembra? Uma picada purulenta bem no meio da testa? Tá, isso foi ambíguo... mas dane-se, vale a intenção.
Pois é. É assim que alguém anda tentando se fazer lembrada na minha vida. Me acusando, com algumas entrelinhas desalinhadas, forçação, um punhado de mentira e - por que não - umas contradições. Meu peito, graças a Deus, já não é atingido faz uns meses, e o máximo que conseguem com tamanhas confusões e tentativas frustradas de se justificar, é me dar mais e mais certeza de que, sim, o racionalismo afeta bastante os egocêntricos por natureza.
Rapaz, bem que eu queria saber como funciona a mente de certas pessoas. Descobrir como aquele cérebro consegue dar tantas interpretações a uma única oração - e escolher para ter em mãos sempre a interpretação mais dramática. Quanta intriga, quanta perda de tempo! Por que não simplesmente deixar cada um para o seu lado, "deixar estar", como andaram me dizendo? Deixar a realidade mostrar quem - e como - estava certo? Será que o mundo das palavras é tão ambíguo a ponto de que não vão entender o meu recado aqui? Nem assim, tão diretamente? Nem aqui, onde tenho certeza de que estarão a ler isso silenciosamente, do outro lado da tela, com os olhos fixos em cada letra deste texto?
Cada qual pro seu lado, poxa! És legal, e representas muito para a minha vida, fazes parte de minha história... mas nem mesmo uma amizade a gente consegue cultivar, tamanhas as confusões que fazes com qualquer coisa, achando que o mundo gira a teu redor, emendando mentiras sobre falsidades, palavras sobre suposições, entrelinhas sobre linhas, hipocrisia sobre atitudes! Chega, chega, chega!
Ah, e vale ressaltar: fique tranquila, eu estou feliz, não quero "vingança", nem tenho mágoas guardadas de nada, por nada. Não tenho raiva de você ou de ninguém do seu meio. Também não quero esclarecimentos, respostas, mais palavras, mais confusões... apenas estou um pouquinho de saco cheio disso tudo e precisava, de forma delicada, me "revoltar". Mas o que me preocupa, a minha única preocupação é: Eu estou feliz, minha amiga.

Será possível que você não quer ser feliz também?

José Augusto Mendes Lobato 14/03/06

P.S.: Siiiim,este é TOTALMENTE pessoal e TOTALMENTE verossímil. =D

quarta-feira, 8 de março de 2006

Todos Os Silêncios


Quem sabe estas palavras nem sejam lidas. Quem sabe, mais uma vez, elas sejam entendidas erroneamente, e na hora errada.Quem sabe o frio e a trêmula visão de olhos lacrimosos inundem estas frases tão sinceras. Quem sabe eu mesmo esteja congelando aqui, do outro lado da tela, na mais fria atitude que já tomei em minha vida. Mas às vezes é o que nos resta. O frio, que congela as cicatrizes já fechadas, torna-nos imunes aos pleonasmos que o destino nos reserva. Um frio bem-vindo, com sabor de vida. Nem sempre ele significará dor, angústia. Hoje ele é libertação.
Pois bem. Sem a dor do transpassar de meses "a sós" com a vida real, surpreendo-me com uma suposição. Uma interrogação no mínimo estranha. Uma certa "cobrança", por assim dizer. Pensei um pouco sobre o que seria, mas, após dizeres tão sinceros - dadas no mundo das palavras, é claro - , nem perdi mais meu tempo. O que seria aquilo, afinal? O que teria eu, após tantos e tantos meses vivendo a minha vida na sua forma mais espontânea, agradável, real e livre de convenções, feito para ter recebido nas mãos um questionamento tão paradoxal? Um questionamento de algo que está aprisionado em outras épocas? Uma proposta de desviar um caminho tão saudável como esse, onde dois pares de pés caminham, cada um ao seu modo?
O que responder, afinal?!?!?
Restou-me, então, o silêncio.
É, é uma grande surpresa ter o passado tão doce,mas inevitavelmente preso em horas que já passaram,não mais retornando à mente a cada encontro, a cada "olá". É ainda maior a surpresa de ter este frio, pela primeira vez, vindo de meu coração. E enorme, assustadora, é esta surpresa de não sentir mais. Simplesmente não sentir mais nada. Nem saudade, nem dor, nem desejo, ou ansiedade. Apenas o respeito, o carinho, a admiração que mantenho por estas mãos que me acompanharam por tantos meses e agora são memória. E memória que se torna distante, sem que eu tenha que mover um dedo...
E agora, que não sinto nada? Não é óbvio que sentir nada já é sentir algo?
Pois é. Sinto o passar de horas intensas, de momentos inequecíveis ao lado de quem me valoriza, de momentos novos, eternos e perfeitos enquanto duram. Sinto as mágoas se esvaírem, em cada perdão concedido, em cada passo rumo ao outro lado... passos estes certos, certos como meu silêncio. Sim, silêncio, este ambíguo silêncio.Seria uma tal confusão? Ou mesmo uma vontade contida? Todos os silêncios significam algo, têm suas entrelinhas, por assim dizer.No meu caso - neste caso - o silêncio, finalmente, tem a sua razão pura e literal de ser dito, e ele está a sair destas linhas e entrelinhas que aqui deixo eternizadas. É minha atitude neste momento,atitude que pode parecer covarde, ausente de coragem, de despeito ao passado, de confusão...seja lá o que for. As aparências enganam, e estou mais do que decidido.
Meu silêncio, minha amiga, é a resposta que parece não existir.
É a tal "contradição", que na verdade, é pura e simplesmente monocromática e fácil de se entender.
Estou calado porque simplesmente não tenho nada a dizer.

José Augusto Mendes Lobato 08/03/06

sexta-feira, 3 de março de 2006

Nascimento, Razão e Sentido da Poesia

A mais bela das artes escritas para muitos, a poesia já contribuiu muito para a ascenção do homem. Mal se sabe a força que ela tem, a dificuldade com que ela se manteve através dos séculos. Sim, os versos lutaram por através dos séculos para coexistirem com as novas tendências de expressão humana. Os poetas morreram e deixaram seu legado para a sociedade, que foi explorando as tais “novas tendências” conforme a história era escrita. Movimentos literários definidos só surgiram por volta do século XV, com o Trovadorismo medieval. E hoje, com o Modernismo se fundindo com a estética mista do século XXI, e com os meios de comunicação explorando cada vez mais a arte escrita, resta a nós perguntar para os céus por que diabos pegamos a mania de escrever em versos o que poderia ser escrito em linhas de pergaminho.

Não se sabe ao certo, mas a suposição é que ela surge como uma forma alternativa do autor se fazer ouvir pela sociedade. Geralmente mais parciais e subjetivas, as poesias descrevem, em poucas palavras, impressões que ocupariam tediosos parágrafos de texto. De quebra, simplificadas, elas trariam um tom mais ambíguo às idéias que por elas circulam, deixando em suspenso muitos detalhes que acabariam aproximando-a de seu sentido final. Isso sem se esquecer de que a acessibilidade destas para os meios populares era maior do que a de livros imensos, que mal cabiam na mente atrofiada e simplista do povo.

A princípio, esta estética mais prática serviu para os poetas relatarem seus casos de amor e de desilusão,de forma egocêntica e idealizada. Os trovadores, como eram chamados, acabaram por apresentar a poesia para as massas, com grandes doses de humor plebeu em suas entrelinhas. Gil Vicente é o nome mais óbvio desta era. A partir de certo momento, porém, a poesia deixou de falar apenas de flores. Uma revolta contida nos pensamentos foi se transferindo para as palavras. Surgiu o engajamento poético. Desta forma, o homem começou a criticar a si mesmo. A derrubar impérios com insurreições movidas por ideais transmitidos não mais no boca-a-boca, mas sim nas palavras. Os grandes líderes eram poetas, verdadeiros idealistas e educadores de massas que sabiam falar sobre o que defendiam e sobre o que acreditavam. Suas poesias eram discursos, manifestos libertários. A poesia começava a ter uma função social mais definida.

O auge disto vem na modernidade, onde ela começa a ser vista mais como instrumento de crítica reflexiva do que como uma estética pessoalista de prosa, com o surgimento do expressionismo subversivo e idealista. Mas a grande verdade é que a poesia é mais do que “apenas” uma forma de expressão humana. Ela é uma forma de definição humana, uma forma mais confortável de se tentar descrever, analisar, romantizar ou criticar determinados caminhos que a sociedade toma enquanto constrói sua história por através dos séculos.

Estamos em constante processo de crescimento. A poesia não. Ela nasceu em tempos mais prósperos, e vem como um sopro que resgata muitos dos nossos valores perdidos em uma sociedade que supervaloriza a dimensão superficial dos fatos. As entrelinhas são resgatadas pela poesia, pela tão nobre poesia. Apesar de ter sido – e ser – usada para vários fins, ela é fixa, vem do nosso íntimo mais esquecido. Muda de contexto e estilo de linguagem, mas não de formato. Métrica, bela, a poesia permanece enquadrada na estética pura e intensa dos versos contraditórios e das metáforas. Vence a prosa por ser menos espaçosa, portanto, mais ambígua. Cala a boca dos ignorantes, dá voz aos sensíveis. É a arma dos silenciosos contra a imensidão prosaica do cotidiano. Um grito debaixo d´água, por definição.