quarta-feira, 8 de março de 2006

Todos Os Silêncios


Quem sabe estas palavras nem sejam lidas. Quem sabe, mais uma vez, elas sejam entendidas erroneamente, e na hora errada.Quem sabe o frio e a trêmula visão de olhos lacrimosos inundem estas frases tão sinceras. Quem sabe eu mesmo esteja congelando aqui, do outro lado da tela, na mais fria atitude que já tomei em minha vida. Mas às vezes é o que nos resta. O frio, que congela as cicatrizes já fechadas, torna-nos imunes aos pleonasmos que o destino nos reserva. Um frio bem-vindo, com sabor de vida. Nem sempre ele significará dor, angústia. Hoje ele é libertação.
Pois bem. Sem a dor do transpassar de meses "a sós" com a vida real, surpreendo-me com uma suposição. Uma interrogação no mínimo estranha. Uma certa "cobrança", por assim dizer. Pensei um pouco sobre o que seria, mas, após dizeres tão sinceros - dadas no mundo das palavras, é claro - , nem perdi mais meu tempo. O que seria aquilo, afinal? O que teria eu, após tantos e tantos meses vivendo a minha vida na sua forma mais espontânea, agradável, real e livre de convenções, feito para ter recebido nas mãos um questionamento tão paradoxal? Um questionamento de algo que está aprisionado em outras épocas? Uma proposta de desviar um caminho tão saudável como esse, onde dois pares de pés caminham, cada um ao seu modo?
O que responder, afinal?!?!?
Restou-me, então, o silêncio.
É, é uma grande surpresa ter o passado tão doce,mas inevitavelmente preso em horas que já passaram,não mais retornando à mente a cada encontro, a cada "olá". É ainda maior a surpresa de ter este frio, pela primeira vez, vindo de meu coração. E enorme, assustadora, é esta surpresa de não sentir mais. Simplesmente não sentir mais nada. Nem saudade, nem dor, nem desejo, ou ansiedade. Apenas o respeito, o carinho, a admiração que mantenho por estas mãos que me acompanharam por tantos meses e agora são memória. E memória que se torna distante, sem que eu tenha que mover um dedo...
E agora, que não sinto nada? Não é óbvio que sentir nada já é sentir algo?
Pois é. Sinto o passar de horas intensas, de momentos inequecíveis ao lado de quem me valoriza, de momentos novos, eternos e perfeitos enquanto duram. Sinto as mágoas se esvaírem, em cada perdão concedido, em cada passo rumo ao outro lado... passos estes certos, certos como meu silêncio. Sim, silêncio, este ambíguo silêncio.Seria uma tal confusão? Ou mesmo uma vontade contida? Todos os silêncios significam algo, têm suas entrelinhas, por assim dizer.No meu caso - neste caso - o silêncio, finalmente, tem a sua razão pura e literal de ser dito, e ele está a sair destas linhas e entrelinhas que aqui deixo eternizadas. É minha atitude neste momento,atitude que pode parecer covarde, ausente de coragem, de despeito ao passado, de confusão...seja lá o que for. As aparências enganam, e estou mais do que decidido.
Meu silêncio, minha amiga, é a resposta que parece não existir.
É a tal "contradição", que na verdade, é pura e simplesmente monocromática e fácil de se entender.
Estou calado porque simplesmente não tenho nada a dizer.

José Augusto Mendes Lobato 08/03/06

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