domingo, 25 de dezembro de 2011

On the run


Os últimos três meses foram bem corridos. Difíceis? Talvez. Acho que nunca havia pegado tantas responsabilidades e posto elas nas costas em toda minha vida. Nem quando me mudei – largando dois empregos e uma vida confortável para estudar e tentar a vida em São Paulo, a boa e velha pasárgada dos estudantes de comunicação. Nem quando minha avó faleceu, em 2009, deixando uma lacuna que, até hoje, não se preencheu na família. 2011, certamente, ficará na memória como o ano mais louco que, do alto de meus 22 anos, já vi passar. Mas isso tem um quê de positivo.

Um monte de coisa veio acontecendo, num ritmo e velocidade que me impediram de pensar com calma e, até, passar para o papel – como costumo fazer, teimosamente, à espera dos poucos amigos leitores desse blog. Primeiro, e mais importante: em 2011, mudei de estado civil. Para um homem, criado em uma família 90% feminina e treinado para ser tudo, menos um Don Juan amazônico, foi algo de grande impacto; precocemente ou não, achei minha companhia para o resto da vida no segundo mês de faculdade, e cá estamos, eu e Mayara, os dois casados, morando fora e concluindo o mestrado. Dois nerds por opção, cujo maior sonho na vida é ter uma carreira estável de professor e um apartamento antigo e espaçoso numa rua qualquer da Aclimação, com espaço para dois filhos e um labrador.

No mais, também foi um ano de aumento na família. Nasceu meu terceiro sobrinho – e primeira sobrinha –, a Betina, para trazer alegria e um pouco de safadeza recém-nascida para nossas rotinas. Viajamos às pressas, para uma estadia de menos de 48h em Belém, pra vê-la em seus dois primeiros dias de vida. Depois, de longe, fiquei babando nas fotos e vídeos que a Clarissa me enviou quase diariamente, para alegria da nação. Como já disse em outro momento por aqui, acompanho o crescimento dela nas poucas vindas à terrinha natal e por e-mail e telefone. Portanto: salve, fotografia digital do século XXI. Salve, internet!

Paralelamente, alguns sustos. O papai – ou Lobatão, como prefere ser chamado – passou por doenças, internações e descobriu que a saúde pode ser frágil, mesmo entre aqueles que parecem incapazes de adoecer. Está se cuidando e aprendeu a viver a vida com mais calma e saúde; lição que, cada qual à sua maneira, todos os filhos acabaram trazendo para dentro de suas casas.

Outro episódio complicado foi a demissão, em caráter espetacular, midiático e vergonhosamente calunioso e difamatório, de minha mãe da Santa Casa do Pará, em mais um dos inúmeros causos e baixarias da política paraense. Sorte que ainda existe justiça e a doutora continua sendo reconhecida, tanto pela classe médica como pelos conselheiros da categoria, como uma referência em ética médica e gestão em saúde no Pará – cedo ou tarde, estará fazendo show em algum outro hospital da rede privada de Belém (saúde pública, nunca mais), enquanto os que vivem de cabide político (e de jogar seus crimes nas costas dos outros) estarão mamando noutras tetas.

E a gente, o casal pirralho? Bem, a gente tá naquela loucura que se chama a vida de jovens
adultos brasileiros de classe média que vivem numa cidade de 20 milhões de habitantes. Profissionalmente, foi um ano louco – comecei ele em uma redação de jornal, vendendo a alma e todas as horas livres do dia no intuito de tentar ser contratado. Depois de sair e passar umas semanas à deriva, consegui, finalmente, entrar em um emprego fixo; local que, aliás, é a prova viva de que ambiente de trabalho pode, sim, ser confortável e propício para a qualidade de vida. Pra completar, comecei a lidar com temas dos quais não tinha nenhum domínio – e que, agora, passei a valorizar, respeitar, entender e incorporar a meu dia a dia sem medo de ser demagogo ou superficial.

E tudo isso correndo junto ao mestrado. Semana passada, fiz a defesa do meu trabalho; foi um dos dias mais importantes da minha vida. Percebi, mais uma vez, que todos os desafios, dificuldades e aprendizados dos últimos dois anos são muito mais que um título. São, na verdade, o início de uma carreira baseada na ideia de que, no final das contas, a gente nunca sabe mais que o básico. E deve, diariamente, buscar ultrapassar os próprios limites, concepções, ideias e ideais, apoiados nos amigos, colegas, familiares e professores.

O dia da defesa foi corrido, bem mais rápido do que eu esperava, e certamente numa situação atípica – 21/12, na véspera da vinda a Belém e atrapalhando o Natal dos professores da banca, além da licença-paternidade do meu orientador! –, mas valeu todo o esforço. A notícia da aprovação veio três dias após uma porta na cara bem dolorida, em um processo seletivo que definiria minha vida para os próximos anos; serviu para recobrar as energias e provar que nem sempre a dedicação e o esforço trazem resultados imediatos.

Enfim. Como disse lá em cima, foi um ano bem louco. Como todos os outros, instável, oscilante e caótico, mas nada de que se queixar, no final das contas. Talvez, apenas, uma ressalva – convertida em promessa brega de final de ano –: viver as coisas com calma é mais sensato. Talvez seja mania de ansioso, esse negócio de querer agarrar todas as oportunidades do mundo a uma só vez. Depois de fazer tanta coisa ao mesmo tempo e me atropelar por entre elas, dormindo mal e relaxando pouco, ficou a lição de, enfim, ouvir o que Deus e o mundo têm falado pra todos nós, da geração pós-1980: as oportunidades não sumirão do mundo se a gente esperar o momento certo para agarrá-las.

Agora é repetir como um mantra pós-moderno: que venha 2012. Tenho certeza que, ao contrário do que dizem as profecias, o mundo não acaba e que vou fazer mais e melhor, por mim e pelos outros. Vou crescer e amadurecer – muito.

E agora já chega, que isso aqui tá ficando com cara de diário de colegial norte-americana.

(Sobre a foto: vista do Umarizal, em Belém, numa véspera de Natal morta de quente e chuvosa - bem do jeito que essa cidade gosta)