domingo, 21 de maio de 2006

Rising In Spirals


Eu sei, são anseios infundados. Debaixo d´água, o corpo pede ar. De mãos atadas, o corpo pede gritos. O rosto reflete-se na superfície. Puxado para cima, e - Deus me perdoe - mas só me resta perder a alma. Vagar assim, como tantos milhões, de olhos vendados, sem ao menos saber o que se passa ao meu redor. Agindo pelo instinto ridículo e primário de trazer à tona anseios infundados.
Esse que vês sou eu, sabia? Não há mais máscaras, tentativas vãs de agradar a alguém escondidas em um dito "amadurecimento". Muito pelo contrário. Nunca me senti tão apto a errar e cair nos erros infantis de quem peca por sentir. Gostaria que não fosse tão fácil e prazeroso entregar-me; mas, se não o fizer, me sinto sufocado!
Me levanto. Vou até o porta retratos, aquele que tenho perto da cama. Sim, você existe! E isso ultrapassa qualquer linha ceticista de raciocínio que me impõem. Você existe, e está do meu lado. O corpo não pede mais ar, nem grita por socorro. Meu peito leva uma lufada de ar morno. Suspiros preenchem o silêncio de outrora. Teus lábios encostam nos meus, e, mais uma vez, os dois corpos estão entregues um ao outro e se fundem diante do espelho.

"Wake,
Wake and let them see
Your smile cover the deep
And light the candles under my skin
Wake,
Wake up from your dream
This time it´s real, and yours
This world is ours
And there´s no time to follow fear
Or to think it clear
It´s easier when you have no time for tears
And no water inside for the drops
Wake, and remember i´m here."


José Augusto mendes Lobato 18/05/06

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Sinking In Spirals


Às vezes você se sente sozinho, quando sentado no sofá de sua casa a contemplar as espirais de fumaça se desprenderem do cigarro. Às vezes, porém, está cercado de pessoas - amigos - rindo e conversando, e mesmo assim sente-se só. Inclusive alia isto à paradoxal vontade de estar na sua casa naquele momento, deitado na sua cama, se confessando para uma folha de papel enquanto vê o sol nascer.
Não, ninguém entende. Nem há por que (ou como). Você mesmo não compreende! Agora está em casa, escrevendo deitado na sua cama. Pelo visto, sua situação não melhorou. Continua sentindo-se mal. Continua oco, de peito apertado. Sentimentos afloram; mas será que já é a hora para tal? Um cansaço indescritível faz o corpo doer, e a mente se focaliza nas imagens de um dia que eternizou-se.
Às vezes pensa que vive a pior fase de sua vida. Os dias ocupados pelo estudo. O terrorismo mental, a auto-cobrança, a culpa. Logo lembra que ela existe. Sente-se bem melhor, sim... mas novos anseios vêm à tona. É sensato entregar o coração assim, tão indefeso, nas mãos de um amor tão jovem?
Às vezes você, de tanto enterrar um medo seu com punhados de outro, acaba perdendo a linha de raciocínio. Acaba sozinho, em amplos sentidos, se martirizando por querer ser diferente e nunca o conseguir. Por sentir um pouco demais, por si e pelos outros. Por si e pelo amor que cultiva dentro de si.
Não, ninguém entende. Nem há como ou por que.

"Sleep,
Sleep tonight.
Taste the memories
Melting the now you´ve got inside.
Weep,
Weep in peace, but don´t cry!
They just don´t understand
You were the first to really hold my hand
Without leaving them tied.
So keep,
Keep this secret between us,
One month may be one second
But now i have one century with you, with me
And one eternity to defy."



José Augusto Mendes Lobato 14/05/06

sábado, 6 de maio de 2006

Meninos e Meninas?

Andava de carro distraído, falando bobagens com uns amigos meus enquanto decidíamos para onde ir. Eram cerca de quatro horas da manhã, as ruas já estavam um pouco vazias, com poucos carros e pessoas passeando. E eis que pára um carro do nosso lado, cheio de adolescentes mais novos que nós. E qual não foi nossa surpresa ao ver, no banco de trás, um casal... de meninos?!?

Sim, dois meninos. Um do lado do outro. Se olhavam rapidamente e espiavam à sua volta, como que calculando a probabilidade de alguém comprometedor os ver, e de forma espontânea, com os demais amigos dentro do carro mesmo, se beijaram. Não, não de forma tórrida ou seja lá o que for. Apenas se beijaram.

Maior que meu choque em vê-los foi meu choque ao perceber que me chocava com isso. Vive-se um mundo de possibilidades e liberdades ditas quase infinitas, e, teoricamente, um casal de meninos de 14 anos deveria ser normal, assim como um de meninas. Mas, na prática, ainda há uma certa intolerância de nós, heterossexuais, com o bissexualismo. E, afinal, porque isso?

Deixando de lado a visão biológica-evolucionista, restam apenas os dogmas da Igreja. Mas, peraí. A Igreja repreende quem sente atração por pessoas do mesmo sexo, mesmo sem elas terem tido culpa de tal? A Igreja é, acima de tudo, a base de toda a sociedade atual, temos uma dívida cultural bastante polpuda com ela e tudo o que somos, temos e cultivamos nasceu da religião, de uma forma ou de outra. A negação da própria sexualidade em nome de Deus seria realmente algo saudável? Não sei. Só sei que aquele beijo não me pareceu nada indecente ou profano. Foi apenas algo incomum, uma espécie de contracultura manifesta da homogenia sexual. Pode parecer estranho, mas, ao pensar direito no que vi, me pareceu até uma atitude admirável assumir diante do resto do trânsito e do mundo um desejo que se faz presente em tantos.

Antes que joguem pedras: não, não me sinto atraído por pessoas do mesmo sexo. Apenas senti pena, pena porque sou incompreensivo mesmo lutando para não o ser (e todos são como eu). Pena porque aqueles meninos ainda irão sofrer muito. Pena pelas vidas que precisam estar ali, encarceradas dentro de suas mentes e de seua carros às quatro da manhã, pelo medo de sofrer julgamentos vagos. Acima de tudo, senti pena de mim mesmo por ter pena deles. Era a vida deles, afinal, e minha voz de nada servia, ou as pedras viriam para cima de mim e me tornaria um suposto "defensor doa gays".

E, chocado assim, mas tranquilo assim, voltei a olhar para a frente, para a cidade, enquanto o carro com o casal se distanciou na rua ao lado. Os vi se largarem um pouco, e o braço de um deles estava por trás do ombro do outro.

Nojento? Aceitável? Demoníaco? Absurdo? Natural?

Isso aí vai depender de você. Ao meu ver, não passa de um preconceito embutido em nossas cabeças de julgarmos subjetivamente quem difere objetivamente de nós.

terça-feira, 2 de maio de 2006

Mais um resmungo

Qual será o tamanho da aura de intelectualidade que cerca os que escrevem?
(...)
Não, perdoem-me a expressão, escrever é uma coisa. ESCREVER é outra.
Pegar num papel e rabiscar o nome é bem diferente de deixar descer para a ponta da caneta a fluidez de pensamentos avulsos, parágrafos transcritos da alma do escritor. Não é?
(...)
Pois bem, voltando à questão: qual a mistificação que se faz sobre os que ESCREVEM?
Será que é ser "culto"? Diferente das massas de gente alienada? Gostaria de saber, afinal não passo de mais um garoto pimbudo que nem responde pelos seus atos. Se ESCREVER significar algo, me coroem, porque não passo dez dias sem escrever. Poesia, prosa... o que for. É um vício. Porém, uma coisa é ser um poeta urbano, um revolucionário de tempos modernos. Outra coisa é escrever e não ver nossas idéias se repetirem em versos, não sermos clichês, egoístas, pessoalistas, infantis! Não passam de resmungos, salvo pouquíssimas exceções. Agora me diz: o que isso tem de bom? "Perco" horas na frente de um computador escrevendo não sei para quem, nem com que objetivo, não sei por quantas vezes! Por que não sair de casa, deixar o vento e a chuva me machucar e banhar? Posso lhes garantir que não fico esperando alguém ler e falar que está lindo, maravilhoso, até por que isso é mentira e eu sei. Apenas falo com as paredes, com as redes virtuais... com o blogger, até, se querem saber! Resmungo, simplesmente. E qual o papel de um cara desses no mundo? Ser chamado de culto?!? Se encarcerar nos seus pensamentos, e, como diria uma grande amiga minha, nas suas "teorias falidas sobre a vida"?
Que honra mais pútrida!!!
(...)
Cultos são os que pensam e pouco falam, cultos são os pensamentos suspensos numa névoa de entrelinhas; cultas são as vozes que nos falam diretamente o que sentem, cultas são as vozes que não estão aprisionadas nas palavras! Cultos são os de "coragem", os que sentem e não precisam escrever! Pelo menos é o que pensam. Que cultos são os alienados, vazios, ditos fortes diante do turbilhão de sensações que lhes rege os dias e noites...
"Cultos são os insensíveis!!!"
(...)
Eu? Ainda ESCREVO por aqui o que penso, e nem sempre o falo. É a sina do covarde e jovem pseudopoeta que vos escreve toda semana...

José Augusto Mendes Lobato 02/05/05