segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Car Blues

Você o quebra. Ou tenta. Retalha com um grito, encarcera ele em um sorriso. Mesmo assim, não o suporta. Foge dele pela inconstância de sua imaterial e fugaz instância. Pede por ele, quando os tímpanos já não suportam o caos e a poluição generalizada do ambiente, quando as cordas vocais desistem de fazer ouvida a voz de um homem.

Mas longe dele você cresceu. E sem ele irá morrer.

É. Quem aí lembra da última vez em que ficou em total, completo, absoluto, silêncio? É difícil. Seja uma música baixa posta enquanto está no banho, seja o barulho da rua, seja um passarinho cantando na janela, um tiroteio no bairro vizinho, uma televisão. Seja o caralho a quatro correndo pelo corredor da sua casa. Não nascemos para parar no tempo e no espaço, dizem os velhos. O mundo corre, e como corre. Eles não sabem de nada. Nós é que na crescente correria vivemos. E da crescente desordem somos concebidos. Portanto, dela e de seu barulho somos parte.

Cerrar os lábios e ouvir o zumbido perturbador de um segundo em silêncio é o medo de todo homem pós-moderno. É incomum, desarma. Não somos preparados para encarar o vácuo sonoro, nem que seja por uma boa causa. Antes o grito, o esporro, do que um olhar penetrante. Antes os punhos cerrados em histeria do que um minuto perdido em linhas escritas. Como completos animais, deixamos de lado a beleza do subjetivo em prol da agilidade e primariedade de uma expressão genérica como o ato de produzir barulho.

Já não disse a psicologia que somos animais forçados, por regras comuns de convívio, a engolir instintos? Minha teoria é derivada dessa: o silêncio é uma poética regra de educação, consigo e com o mundo, e vai contra nosso mais grosseiro íntimo. O silêncio é desinteressante para nós, homens primários e regressos: é anticomunicativo e pede demais da mente atrofiada de um homem enjaulado na selva de pedra.

Não há espaço para refletir, abstrair, quando estamos tragados na correria cotidiana. No caos. E não há razões tácteis para abandonar o caos. Afinal, tudo parece seguir em, perdão o paradoxo, estável desordenação. Portanto, nada de sentimentalismo. Nada de "calar e ouvir". Sempre falar, e de preferência mais alto, caso queira ser ouvido pelo próximo. Pense sempre em si e nos seus interesses. Ignore o que caras como eu dizem, e nunca - eu disse nunca! - pense na sua vida como uma sucessão de barulhos, trancos e barrancos. De lacunosos momentos que, quando postos lado a lado, confirmam o que Deus e o mundo já sabem:

A vida moderna não faz sentido. O homem moderno não faz sentido.

Afinal, ninguém aqui está querendo ver mais um jovem de vinte e poucos anos se jogando da janela do seu quarto. Não leve nada disso muito a sério, e continue, por favor, evitando o silêncio. Longe dele você cresceu. E sem ele você irá viver mais, muito mais. Acredite.

Um comentário:

Anônimo disse...

eu gosto do silencio, gosto mesmo. Como sempre o texto tá fodão né guto? me deu uma vontade de escrever agora, depois te mostro. beeeijos.