Júlia chegou no trabalho e se trancafiou em uma reunião. Márcio acordou na hora do intervalo de almoço da esposa. Luiz assistia os desenhos animados da Globo, e, quando acabaram, engatou o choro. Liege chamou Márcio e os dois o calaram à força. Sob ameaças, Luiz foi para o quarto, ligou a tevê e colocou nos desenhos dos canais fechados. E deu risadas até o pai ficar bêbado.
Quando Júlia saiu do trabalho, pensou: vou levar alguma coisa para o meu menino. Comprou uma barra de chocolate da Hershey´s, daquelas bem baratinhas e gostosas, para Luiz. Chocolate o fazia ficar mais esperto, reavivava os neurônios já envelhecidos. Ao voltar para o prédio, porém, sentiu uma dor forte no peito. Encostou-se nas paredes da escada que subia todos os dias, forçou a vista que já escurecia, e subiu, a mão no seio esquerdo e a certeza de que algo corria muito, muito errado.
A casa estava a mesma coisa de antes. As taças e cristais da sala estavam cheirando a uísque. Liege limpava o vômito de Márcio na sala, a baba de Luiz do carpete, cantarolando a música nova do Calypso com um Derby em mãos. O cheiro de cigarro dava um tom meio etéreo àquela sala. Júlia havia construído a família há uns dez anos, e veja só - tudo se resumia, agora, em fracasso.
Já tonta e sentindo o ar lhe faltando, Júlia abriu a porta do quarto do menino e lá os viu, deitados. Como sempre. A criança que não crescia, o homem que a mantinha dentro de si. E a mulher que guardava segredos na intimidade. Apagou a luz, beijou os dois no rosto e foi deitar-se no outro quarto.
Um comentário:
Continua!!! Diz que continua!!
Olha, voltei a atualizar o meu! Abraço
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