quarta-feira, 13 de junho de 2007

Teoria geral das juventudes falidas

Dia desses me peguei pensando sobre a juventude. Ô épocazinha complicada da nossa vida, não é? Pois é, ninguém gosta de se lembrar do número de espinhas pipocando na cara, dos trocentos amores não-correspondidos, das brigas com os pais e das punhetas batidas no banheiro da casa da avó. Dá uma certa vergonha. Mas será que a adolescência é a mesma coisa pra todo mundo? Acho que não.

Eu, por exemplo, tive uma um tanto quanto conturbada. No entanto, feliz. Bebi, e muito. Fumei o primeiro cigarro cedo, com 14 anos. Entrei em coma alcóolico. Conheci o submundo da minha cidade, entre idas ao final da Doca, matinês de filmes trash (com amigos fumando maconha ao meu lado), bandas de rock (já tive três), hospedagens alternadas na casa dos meus pais. Estudei pouquíssimo, e só fui dar valor pra essas coisas, como muita gente, já dentro de uma faculdade - particular. Enfim. Ao menos, não tenho tantas coisas ruins pra lembrar.

Eu e você, leitor, somos exceção. É só olhar pros lados. Tem um flanelinha na frente de uma lanchonete famosa que eu sempre vou, deve ter uns 17 anos. Sempre dou uma moeda pra que ele tome conta do carro da minha namorada. Pela expressão, passa o dia inteiro fazendo isso. Tem um grupo de crianças de doze anos na África, que opera uma Ar-15 melhor que os nossos militares. Geralmente, se alimentam de areia e não passam dos quinze anos. Um pouco mais em cima, tem um bando de adolescentes europeus se drogando, talvez por falta do que fazer. Muito dinheiro, pouca convivência com os pais, um certo tédio... às vezes dá em suicídio. Ou overdose.

Ah! Também temos, logo depois da linha do Equador, os americanos, coitados, que passam a vida estudando sem más intenções e, do nada, levam tiros dentro da sala de aula, invadida por um nerd aborrecido com a vida. Esses são os piores, nem têm chance de lembrar de nada. E, aqui dentro do Brasil mesmo, temos os jovens nordestinos, que não estudam nem comem, e vivem à base de esmolas nas grandes metrópoles - ou do crime. A média de filhos por casal é 5.

É nessas horas que penso, com um certo niilismo: o mundo não está pronto para receber os jovens, não é? Somos empurrados a uma penca de responsabilidades desde a infância. Chegamos à adolescência moldados para ser determinada coisa (nada do que descrevi acima), maltratados por uma cultura violenta e exigente, que pressiona todos a ser de determinada forma, vestir-se de um jeito, comer de outro, falar assim, ouvir assado, etc. Por inércia, alguns vão contra isso. E se dão mal. Os pais não percebem o tormento dos filhos - estão na rua, trabalhando para pagar as contas. Os educadores dão aulas pensando no contra-cheque. Os irmãos, avós e demais parentes estão absortos em suas vidinhas igualmente pré-fabricadas. E aí... aí a molecada se junta pra fazer besteira. E se dá mal.

Dia desses me peguei pensando sobre o futuro de um mundo assim. Onde todos estão cagando para tudo, onde os jovens vivem uma vida fútil e totalmante alheia à que lhes espera fora da redoma que é a adolescência. Ô épocazinha chata, essa nossa tal de pós-modernidade. A gente estuda, sai, bebe, se droga, trepa, mata, morre... e mesmo assim sempre sente que algo está faltando. Os jovens aborrecidos de hoje serão os maníaco-depressivos de daqui a uns dez anos, vivendo à base de café, cigarros e pílulas, fazendo tudo o que há de errado por trás da cortina enquanto alimentam o arcabouço hipócrita da sociedade que os cuspiu.

Você deve estar se perguntando o porquê de todo meu pessimismo. Deixa eu explicar: acabei de fazer 18 anos, e ainda me sinto jovem. Como já falei lá em cima, eu e você, leitor com olhar crítico, somos exceção. Que Deus nos permita ser sempre homens de corpo e moleques de espírito, podendo assim inflar o peito para falar de si e odiar tudo e todos. Afinal, a crítica é a força motriz do mundo.

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