domingo, 6 de maio de 2007

Clipping Papa-Chibé

Meu gato vira-lata dorme em cima do Diário Polícia. Todos os dias, limpo o cocô que ele faz na caixinha de areia e troco os seus jornais. Invariavelmente, os classificados ficam em cima do pote de comida e o caderno policial, na caixa de sapatos que faz as vezes de cama.

Todos os dias, minha secretária pega o jornal da cama do gato e dá uma lida, pra saber quantos amigos dela morreram na semana passada. Eu já me cansei de implicar com seus hábitos, ela diz que é por segurança própria que lê todo aquele lixo. E eu, eu só faço engolir em seco e compro o jornal de novo.

Meu cachorro não é tão educado. Ele tem um quarto que é só dele, cheio de jornais da semana passada pincelados de xixi e merda. A cara da governadora está estampada embaixo do saco de ração, junto com o Bernardino e todos os badalados de Belém. E eu, eu só queria ter saco para ler as mesmas coisas todo dia, e não desperdiçar papel e dinheiro em novas edições de mesmo conteúdo.

Todos os dias, eu acordo e fumo um cigarro. Enquanto engulo uma xícara amarga de café preto, leio o Magazine e o Caderno D, procurando algo pra fazer nos fins de semana. Descubro que não, não há nada pra fazer nos fins de semana. Saio de casa, fumo uma carteira e bebo uma grade. Volto às duas da manhã. E, bêbado e entediado, troco o jornal dos bichos enquanto preparo a cama pra dormir.

Minha família é ótima. Minha mãe é uma pessoa culta, educada. Já foi assaltada no meio da Rui Barbosa, e reagiu. Milagrosamente, não virou matéria de capa, com uma tarja preta no rosto estourado. Deu uma cabeçada no pivete e fugiu. E eu, eu só faço ligar os pontos e entender por quê certas publicações “fazem a cabeça” da bella villa belenense. E dou graças a Deus por ela – a minha mãe – estar viva.

Todos os dias, eu acordo e durmo com a mesma sensação de que tudo se repete. O jornalismo brasileiro serve de penico para animais domésticos; os homens, assim como os bichos, cagam para tudo e levam suas vidas à base das necessidades primais. E eu, eu só faço engolir tudo em seco... e compro o jornal de novo.

Decepções à parte, jornalismo é jornalismo, né... o jeito é dar o fora daqui o quanto antes.

Um comentário:

Marina Chiari disse...

decepções a parte, é mesmo isso.
infelizmente.
curto cada vez mais teus textos. já falei que tenho um livro pra te dar? já né? eu e a minha memória de peixe...
ah! por sinal, mudei o endereço do blog. icou mais simpatico sem 16, que remetia a uma adolescencia, infelizmente, longinqua hehehe.
beeeijos.