segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Em fragmentos

"You said you might never know that i want you to know
What´s really inside of your head"


Nostalgia é um sentimento engraçado.

Mesmo que tudo conspire ao seu favor e que tudo esteja bem, você pode às vezes sentir saudade de coisas não facilmente saudosas. Dias de dor e sofrimento, muitas vezes. Seja o dia em que seus pais se separaram, seja o dia em que você se viu sozinho em casa numa noite de sábado, a contar quantos megas de textos no Word já tinha. Setembros, Maios, Janeiros. Eles lhe retornam à mente - e nada melhor para sentir nostalgia do que ouvindo uma boa música.
É, é aquela que você estava ouvindo na noite em que seu pai atravessou a porta da frente para nunca mais voltar para casa. O que fazer? O cérebro associa, e mesmo que agora estejam todos bem, uma inescapável tristeza penetra seu corpo, um arrepio lhe percorre a espinha.
Lembra? Ele dormia no quarto ao lado... acordava e podia dividir a mesa com ele no café da manhã, abraçá-lo, ver aquele rosto tão diferente e, ao mesmo tempo, tão parecido comigo. Confessar a ele meus medos, meus anseios que só a ele contaria. Contar como andava o namoro, a escola. Chegava em casa e lá estava ele, vendo o jornal na tevê com uma nova revista em quadrinhos - aquela que só para mim ele comprava - nas mãos, abraçando minha mãe e minhas irmãs. Aquela figura paterna atravessou a porta de casa no final de 2001, ao som de "Hey Now!" do Oasis, que estava tocando histérica em meus ouvidos. Não queria ouvir o barulho das malas arrastando no chão, do passo nervoso em direção à porta, do "tchau" na porta do (maldito) elevador.
Eram tempos essencialmente ruins, sim. Mas saudosos, para mim. Ele agora vive sua vida, longe de mim e tão perto ao mesmo tempo. Acompanha a minha vida em fragmentos, enquanto eu, de mês em mês, mato as saudades do primeiro e único homem que eu já beijei o rosto sem medo na minha vida... meu pai. O cara que, sem quê nem porquê, se apaixonou pela minha mãe e, deu no que deu, me põs no mundo e amou-a por 23 anos. Mesmo assim, mesmo com toda a nostalgia inexplicada, com toda a tristeza que ela confere, com toda a influência da melodia repetida agora em meus ouvidos, ele é meu paizão. Companheiro assim mesmo, a quilômetros - e anos - de distância.

José Augusto Mendes Lobato 12/08/06

4 comentários:

Leandro disse...

só uma pergunta

ele também não tem um dedo?

Guto Lobato disse...

BOA LELÊ!

o/

Anônimo disse...

boa guto
muito bonito cara...

cara
acho que foi um dos teus textos que eu mais gostei..

Anônimo disse...

necessario verificar:)