quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Celine


Porque não posso sentir mais o aroma das rosas fazendo espirais no ar,dançando em torno da minha mente?Porque as palavras agora me consomem,e não mais são para mim libertárias,aconchegantes?Onde estão as minhas mãos,além de dentro de meus bolsos,enroscadas em papéis dobrados cheios de poesias inacabadas?
Aliás...cadê a poesia que escrevia com meus passos neste mundo?
Porque nada mais brilha diante de meus jovens olhos,se é dito que o sol está sempre à minha espreita?Porque não recebo mais de mim mesmo aprovação,e tudo que desejo é pecado?Porque sou tão inseguro,e minhas mãos trêmulas não me dão equilíbrio?
Aliás...cadê o meu equilíbrio?
Cada momento que estipulo eternizar se torna apenas um instante,volátil e breve esse,que leva minha mente ao infinito e me joga de volta na realidade.Meus olhos ainda estão secos,tenho forças para não chorar ainda.
Não,eu ainda não admiti a derrota.
Porque essas cicatrizes se abrem a cada conversa,a cada palavra que ouço de um amigo?Porque minhas vitórias de cada dia não compensam esssa dor imensa que é estar sozinho?Onde estão os bons conselhos,quando largo-me das presilhas e ajo pelo instinto?
Aliás...o que é o instinto?
Minha boca teima em tremer e pronunciar um nome que agora não me vem à cabeça.Seria isso o inconsciente?O mesmo que nos afasta agora,o mesmo que nos coloca frente a frente numa batalha sem vencedor ou perdedor?
Aliás...para quem eu construo minha história?Para mim,para o que fomos?
Cada lágrima que contenho,tento tornar mais um motivo de orgulho,amargo e frágil esse,que se quebra com um simples toque do teu olhar.Meu coração disfarça o desespero com o lento bater no seio que agora acelera ao te olhar.
Me faltam palavras para repetir os mesmos conceitos sob outro viés,o que posso me dar?Senão esperanças falsas,outro aroma de rosas,essas artificiais,sem cor,sem sabor,sem nada além do cheiro vazio de quem não mais pode amar?
Porque insisto em apunhalar-me a cada segundo,e contar os minutos em que pude enxergar o quão falsa minha fortaleza era,e o quanto me apeguei a uma terra onde não mais posso pisar?
Porque agora minhas mãos mal escrevem,e as letras tortas ainda conseguem um significado formar?
Porque elas ainda te desejam,Celine,querem teu corpo ao meu lado para nele repousar.
Meu amor agora está em suspenso,e meu corpo,tenso,busca um chão para pisar.Ainda sinto que,denso,meu caos será eterno:agora busco uma saída.Uma chance de recuperar minha solidão passiva.Deixo-te um adeus,conforme me entrego,olho para o chão que me espera,me atiro e sinto o vento meu corpo cortar.

José Augusto Mendes Lobato 24/11/05

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