domingo, 27 de novembro de 2005

Vânia

Ah, pai, eu não tenho culpa! Não me julgue, o senhor já teve libido um dia e sabe como essas coisas não dependem da gente... poxa! O senhor sabe que eu sou um menino ainda, os hormônios estão transbordando junto com as espinhas. E eu não posso ser tão santinho assim, a ponto de ser assexuado. O senhor conhece seu filho, sabe que tantas horas no banheiro não são passando condicionador! Sem falso celibato, por favor, não está lidando com um santo!

Veja só que ironia, meu pai: eu fui abusado sexualmente. Tá bom, engole a risada, e afasta esse cinto de mim, senão nem pagar as fraldas do bebê vou poder. Mas eu fui mesmo! Não estava em um pouco mal-intencionado, muito pelo contrário, tentei até evitar. Mas aquela mulher, papai... meu Deus! Aquilo era muito mais que uma mulher... era uma ninfa! Sim, eu sei, não tenho idade para pensar nessas coisas. Mas tenho cabeça para isso já, sou um cara maduro. Não, a situação atual não afeta isso em nada, ainda me considero um cara de cabeça no lugar.
(...)

Bom, como ia lhe dizer antes de levar as porradas de cinto, estava jogando bola com meus amigos e acabei sofrendo uma contusão das brabas, isso o senhor já deve ter tomado conhecimento. Meu joelho estava completamente deslocado, e meus amigos, desesperados, decidiram me levar pro pronto socorro, que, magicamente, é do lado da pracinha. Sei cultivar boas amizades, o senhor sabe disso.

Entramos esmurrando as paredes, gritando por ajuda, mas o plantão parecia ter se transformado numa imensa partida de poker. Apenas uns poucos médicos ainda estavam de pé, e estes poucos conversavam e jogavam papo pra cima das enfermeiras. Sim, pai, parecia início de filme pornô... elas esfregando aquelas canetinhas no canto da boca, rindo de tudo que os doutores falavam, e por aí vai.Mas quebramos a eminência de uma suruba clínica para resolverem meu pequeno “causo” na perna. A essa altura, nem ligava mais para a porcaria da minha perna: estava de olho numa moça, que...

É pai, é ela mesma. Sim, foi ela. Sim, vai ser ela.

No crachá, lia Vânia; no corpo, lia a loucura em versos... a dor da minha lesão foi curada só pelo imagem daquele corpo coberto por aquela batinha de enfermeira, pai! E não estou sendo metafórico! Já a olhava desde a entrada, e ela me respondia o olhar com um sorrisinho cínico. Desde aí já estava ligadão, não tinha jeito.

Calma, o senhor pode fazer o favor de me ouvir? Ainda não me expliquei, relaxe!

Sim, voltando. Entramos na sala, vieram ela e um doutor (nem vi o rosto do figura) me atender. O cara foi rápido, disse que foi apenas um “mau-jeito”, passou uma pomada qualquer, me deu um antiinflamatório, um relaxante e foi embora. Logo meus amigos resolveram voltar para o campinho, alegando que eu “precisava ficar sozinho” (aqui está a prova do quanto cultivo boas amizades). Resumindo, em questão de minutos, ficamos só eu e Vânia na sala.

Tentava olhar para a tevê e fugir da tentação, meu pai, mas a coisa tava complicada, o senhor nem imagina o quanto. A mulher estava a fim mesmo! Ela ficava cruzando as pernas, para exibir aquele par de coxas definidas, e a ditacuja, escondida entre elas, vez ou outra, aparecia coberta pela fina renda da calcinha. Que era preta e transparente, por sinal. Ela ficava me olhando, fazendo perguntinhas, até que uma hora veio a investida a la Sylvia Saint:

- Você tem fetiche com enfermeiras?

- Err... tenho...

- Hum-hum! Percebi,já! Sabia que eu tenho fetiche por garotinhos como você, inexperientes, bobinhos, taradinhos?

- É?

- É.

- Ah...

Fiquei sem resposta. Mal sabia o que fazer. Ela veio andando em minha direção, tirando
cada peça de sua roupa lentamente, fechou a porta da sala com chave, e me deu um olhar sugestivo.

- O que será que temos debaixo desse lençol?

Desnecessário dizer o que ela fez, né pai? E isso não foi nada! Quando eu já estava nas estrelas, ela se jogou por cima de mim! Acho que o ranger da cama deve ter acordado até os pacientes que estavam em coma na UTI. A mulher urrava, me arranhava, até me socava na sua gloriosa cavalgada, e eu lá, “desfalecido” como um bom paciente deve ser. Nem sabia mais o que estava fazendo: o remédio que tomado já estava fazendo efeito, e via várias Vânias, uma mais enlouquecida do que a outra. Em alguns minutos, a festinha acabou, e lá caímos os dois encharcados na cama, cada qual acendendo seu cigarrinho.

Não, pai! Eu não fumo! Foi só para dar o clima!

...E Vânia começou a chorar! Vai entender essas mulheres, né, meu pai? Perguntei para ela porque ela estava assim, mas minha resposta não foi nada fácil de ouvir.

- A gente não usou camisinha...

Bom, desnecessário dizer algo mais! Agora estamos aqui, eu, um futuro pai de 14 anos, o senhor, um futuro avô que nem nos cinquenta chegou ainda, sentados vendo uma enfermeira ninfomaníaca gritar lá da sala de cirurgia pelo meu nome... é, ela se apaixonou por mim.

Não, não vou dar papo. Sigo seus conselhos, papai.

O que quis dizer nessa história toda? Narrar para o senhor a progressão dos fatos, como fui seduzido, como ela que tem a culpa e eu mereço é uma mulher de verdade, como ainda sou o mesmo garoto pé-no-chão que o senhor criou, como estou disposto a arcar com as consequências e fazer o melhor e mudar minha vida, e estudar pra passar no vestibular e trabalhar, e como posso explicar meus erros por ser ingênuo e bem-intencionado, e...

Tá certo, tá certo, desisto.

Pode me bater.

José Augusto Mendes Lobato 26 e 27/11/05

Um comentário:

Luiz Mário Brotherhood disse...

uhuieHiuAEHAEUIhAE égua guto! ótimo!

será que tu achou algumas coisas interessantes procurando essa figura no google?
uAEHuaeh =x

[]'s