terça-feira, 1 de agosto de 2006

Sobre bandeiras, palavras e símbolos afins

Uma bandeira representa uma nação, que por sua vez é a metáfora viva do que o homem achou conveniente chamar de sociedade. A vida em sociedade, com suas nuances e contrastes, é a nação em questão, cuja bandeira deve representar, por meio de cores, listras e símbolos, a identidade de um país. Mas, na prática, o que seriam as estrelinhas e as faixas multicoloridas que, penduradas diante de um órgão público, estampadas em uma microssaia ou estiradas na varanda de um apartamento, nos lembram que somos apenas pedaço do mundo?
Quando crianças, dimensionamos as coisas ao nosso redor de forma que elas são tudo que temos... o nosso mundo. As imagens de outros países que brilham na tevê nos parecem vindas de outro planeta. Mas as bandeiras... ah, elas não! Os símbolos são incorporados em nossas mentes desde cedo, de forma que sabemos que as estrelas e as listras vermelhas e brancas são os Estados Unidos, e que o verde, azul e amarelo são o Brasil. Tudo são símbolos. Desde a linguagem humana, até os mais primitivos linguajares dos animais e às cores que nossos olhos interpretam. Afinal, quem sabe o daltônico não enxerga as coisas como elas realmente são?
É nessa relatividade que nossos símbolos, nossa bandeira, estão. Que nossa nação e nossa sociedade deveriam estar. As cores nos representam. A água e a natureza virgem, o verde e o azul. O amarelo do calor, do calor humano do povo. Mas lá não está o vermelho da corrupção, nem o preto do mulato que deu cor ao brasileiro. As estrelas? representam estados, supostamente. Mas não exibem brilho diferenciado e escondem a gritante desigualdade das regiões e seu crescente desnível. Assim como em nossas mentes podem não estar sendo lidos os exatos significados das confusas linhas que aqui estão transcritas, o homem que deu a luz ao desenho da atual bandeira do país não soube ler nas entrelinhas de sua terra natal. O resultado? Essa coisinha colorida e feliz cobrindo o caixão de mais um policial morto por traficantes em plena metrópole. Em pleno Brasil.
Uma palavra representa uma reflexão táctil. Um símbolo, tal qual a bandeira e sua profusão de cores, a representar o Brasil. A bandeira que vês é linguagem dura e superficial do país que deverias amar. Se não o ama, pelo menos está aprendendo a ler melhor as únicas coisas que não simbolizam nada: as pessoas. Mais especificamente, os brasileiros medíocres, ironicamente responsáveis pela condução de seu país.

José Augusto Mendes Lobato 01/08/06

Um comentário:

Leandro disse...

boa, guto. (pro primeiro parágrafo)