domingo, 6 de agosto de 2006

Tarde de Domingo


Aquele casal ficava apenas olhando o mar, em plena “paisagem romântica” de fim de tarde. Quem passava por ali podia até pensar que não passavam de irmãos de idades próximas (até porque eles, ironicamente, são parecidos). Raramente trocavam beijos, nem davam a entender que eram um casal propriamente dito. Pareciam mais amigos de longa data, rindo um das besteiras e idéias insanas do outro e relembrando loucuras afins já feitas. Mesmo assim, pareciam estar mais unidos que qualquer par que, naquela beirinha de Baía em pleno pôr-do-sol, namorava. Sem beijos épicos, sem grandes frescuras. Apenas entrelaçando os lábios nas palavras.

Às vezes, os assuntos eram despojados. Mas geralmente, eles dois compartilhavam devaneios existenciais, idéias profundas, sérias. “Teorias falidas” (que, de falidas, não têm nada), segundo eles, que iam criando e exibindo um ao outro com uma completa liberdade. Não tinham medo de dizê-las, como se soubessem que seriam sempre entendidos, mesmo que envolvessem coisas aparentemente sem sentido, como dinossauros no jardim ou interpretações subliminares para canções infantis, com reflexões acerca da vida. Filosofia para não-filósofos, por assim dizer. Era isso que tanto conversavam, que lhes fazia rir tão animadamente e chamar a atenção dos transeuntes.
Ele pensa em momentos como aquele sendo únicos em sua vida. Com ela, naquele lugar lindo, naquela tarde modorrenta, sentia uma paz imensa como, há tempos, não sentia. Momentos assim, únicos no tempo e no espaço, lhe serviam como consolo para tudo o que já havia passado, todo o sofrimento que o amor já lhe dera estava sendo compensado agora.

- Eu adoro barcos, sabia? Quando pequenininha, queria ser da marinha...

Um barco fazia a curva lá longe, agitando as águas da Baía e fazendo as pedras lá embaixo serem banhadas pela água. Enquanto acariciava os longos cabelos ruivos e lhe beijava a face, criava, em silêncio, mais uma teoria falida, essa cercada de serenidade. O amor de sua vida, a pessoa com quem ele gostaria de dividir momentos de toda sorte, a pessoa que teria que aguentar suas chatices, a pessoa que ele queria aguentar também, aquela que iria lhe conceder sua confiança, aquela que lhe acompanharia na incerta estrada que percorreria na vida, era justamente a menina com quem trocava brincadeiras e palhaçadas, que estava ali, ao seu lado, tranquilamente namorando. Sem muitos beijos, sem grandes frescuras. Entrelaçando-se nas idéias e nas mãos dadas.

Quem passava por ali não entendia aquele casal. Nem precisavam entender. Ele e ela eram donos de uma amizade das mais belas, de gênios opostos e idéias iguais, de formas de expressão diferentes, mas de sentimentos iguais. Almas gêmeas? Não, almas simétricas. Era ela, a menina-mulher que ele estava disposto a amar por toda sua vida. Silenciosamente, mas com toda a força e intensidade que um amor verdadeiro confere. Só se levantaram quando o sol já tinha se posto e uma chuva se insinuava por entre as nuvens no céu, e caminharam de volta ao carro, deixando para trás mais um momento único de suas vidas.

José Augusto Mendes Lobato 06/08/06

Um comentário:

Mayara Luma Maia Lobato disse...

Mon amour, que lindo! Sério, textinho lindo esse,lindo demais! Te amo!