sexta-feira, 1 de setembro de 2006

(...)

Acharam uma criança no lixo. Bairro pobre de uma capital amazônica. Muita gente gritou alto, revoltosos fecharam avenidas, a notícia saiu em rede nacional. O bebê resistiu, sob os cuidados de médicos da melhor estirpe. Não passou uma semana, já estava nas mãos dos avós. A "mãe" sumira após o incidente, provavelmente com medo de também acabar no lixo.
Esse tipo de situação causa uma certa revolta, e é desnecessário dissertar sobre a monstruosidade de alguém que joga um fruto de seu ventre num latão de lixo, ou sobre a insustentável absurdez da situação. O ponto chave é questionar o tumor social que existe, cresce e se reflete em casos como esse.
As pessoas fazem sexo. Ou amor. Enfim, sem a devida cautela, o resultado das duas é o mesmo: gravidez. E quando uma mulher engravida, ela e seu parceiro estão assumindo um compromisso de vida, consigo e com o mundo que os cerca: colocar nele um projeto de homem ou mulher que deve levar adiante o que chamamos de sociedade. Esse laço de espírito é quebrado por mães que, num acesso de desespero, abortam, por pais revoltados que não assumem o filho, por famílias que crucificam seus filhos por terem "arrumado filho cedo demais", entre outros. Julgamentos de valor à parte, não há como não se revoltar ainda mais com alguém que coloca alguém no mundo para jogar no lixo.
Tanto literal quanto metaforicamente, elas, no lixo, não crescerão bem. Ou morrerão. Se vivas, serão crianças de rua, adolescentes marginalizados, adultos de péssima condição e caráter afetado. E, ciclicamente, péssimos pais. Pequenas células cancerosas, no meio de uma metrópole amazônica ou no centro de Nova York. Sempre serão aberrações sociais. E o efeito bola de neve leva a quê? O fardo de ser pai ou mãe é banalizado; mais e mais células cancerosas se reproduzirão; o sexo é banalizado, e mesmo assim, feito sem cuidados, já que há muitas genitálias a se proteger...
Ah! Chega!
Só de pensar nisso, você já se afoga em pensamentos. Essas pequenas obras de arte que caem nas mãos de um mundo doente serão, em um íntimo distante, gênios e pessoas de bem em potencial. Vestidas, porém, com a ignorância, a violência e os farrapos de um meio social decadente, nunca deixarão de ser uma eterna possibilidade. E nós, a minoria que teve a sorte de nascer em berço de ouro, qual nosso papel? Certamente não se resume a fechar avenidas em protesto, prender gente e concentrar jornalistas por um único dia em torno de um incidente isolado. Nossa função é fazer do nosso mundo um berço melhor para essas crianças, fazer de suas famílias ambientes saudáveis, por adoção ou assumindo-as com carinho e afinco, nosso papel é o de preparar o terreno para que eles colham seus frutos com os lábios sedentos. Valorizar essas obras de arte que a natureza nos proporciona é o que nos tornará pessoas grandes, daquelas que você vê nas novelas e comédias românticas e sonha em ser um dia.

Obras de arte existem para serem comtempladas, não jogadas no lixo.
Pessoas são obras de arte.
Você é uma obra de arte.

José Augusto Mendes Lobato 30/08/06 - 01/09/06

Um comentário:

Anônimo disse...

eu sou uma obra de arte!!
ainda bem!!!!!!!
concordo plenamente contigo e acho que, assim, a gente tá mais perto que muita gente por aí de ser as boas pessoas das novelas...
bjus gutinhoooooooo