terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Dia um

Eu sempre esperei que nem louco as férias. Sabe aquele negócio de adorar acordar tarde, comer, tomar banho, ler, ver televisão, comer de novo e voltar a dormir sem preocupação alguma na cabeça? Pois é. Movia os anos letivos, o vestibular, a vida afetiva e a nada mole vida pós-aborrescência em geral à base do meu anseio por dias ociosos. Tirava notas boas pensando em ficar de férias mais cedo. Era um bom filho pensando em viajar de férias mais cedo. Passei no primeiro vestibular que prestei, pensando em começar minhas férias... mais cedo.

Mas todo esse furor, essa necessidade de livrar-me de responsabilidades, não mais me habita. Se antes eu fugia de problemas, atualmente os fisgo com ansiedade; se antes via o recesso como bênção, atualmente ele me provoca arrepios e uma progressiva sensação de pânico. Acordar de manhã, olhar para a tela do computador e se descobrir totalmente, completamente sem compromissos e metas? Nem mesmo uma cobrança na cabeça, uma perturbaçãozinha sequer? Credo!

Dizem que isso são coisas da idade. A maturidade nos atinge, o desejo de transgressão dos jovens torna-se memória doce, tal qual a inocência infantil ou a curiosidade pré-adolescente. Cedemos lugar para o conformismo, para a necessidade de construir nossos próprios pequenos mundos, conquistar uma independência verdadeira. Não há graça alguma em contestar os pais: o melhor é trabalhar em conjunto com eles, buscando o apoio renegado na adolescência e mantendo a devida distância deles enquanto segue com os próprios projetos.

As férias são o primeiro impacto. Começo a remoer, logo no primeiro dia da tal, pensamentos ansiosos: quero que o próximo semestre chegue. Quero estudar. Quero produzir. Quero trabalhar. Vão ser dois meses vividos a passo de cágado, dormindo e acordando pelo simples fato de... não ter o que fazer? Deus me livre, vou para a rua e procurar um passatempo!

(...)

Err... eu fui e não adiantou de nada. Não tem NADA que eu possa fazer, de produtivo. Eu queria mesmo era um emprego, mas quem há de me ceder essa dádiva? Eu, que antes queria mesmo era ficar sendo sustentado, alimentado e vestido pelos genitores, estava querendo emprego. Em pleno recesso! Igualzinho a eles, que continuam chegando em casa às oito da noite, sentindo-se exaustos, cheirando a cigarro e comida fast-food.

Por isso que eu sempre digo para nunca renegarmos nossos pais: diferentes em gênio ou pensamentos afins, somos, no final das contas, cópias deles. Queremos ser essa máquina de produção de filhos, trabalhadores de bem, conformados com o vazio da vida adulta moderna, conformados com o fato de viver para alimentar suas crias e pagar suas pobres contas bancárias. O furor jovem está saindo de mim, lentamente, enquanto a vida segue, a faculdade vai ficando mais séria e eu vou aprendendo a viver na minha própria trilha.

Eu sempre, sempre, esperei que nem louco as férias. Agora, quero juntar-me a eles, os adultos, e ter uma vida corrida de merda - daquelas que a gente nunca vê nos anúncios de refrigerante. Agora, se me restasse um pedido antes que eu deixasse de ser criança, eu queria apenas tirar umas férias.

Umas férias de mim mesmo, só para relembrar o que é sossego.

2 comentários:

Anônimo disse...

no geral, ainda gosto das férias.
sem a obrigação da aula, pode-se optar pelo isolamento sem maiores danos...
só, aproveito o tempo livre das férias pra me dedicar à esses "projetos" pessoais.
nada muito lucrativo (nada lucrativo, aliás) mas é quando há tempo pra organizar as idéias.

abraço, cara!!
e boas férias!

Anônimo disse...

eu queria me encontrar nessas férias....'férias'! 1 semana de recesso entre o natal e o ano novo ¬¬
mas boas férias pra ti! ou de ti! como quiser!
bjos
até ano q vem na unama!