domingo, 17 de dezembro de 2006

Yin-Yang


"Há quem acredite na perfeição dos fatos, das pessoas, dos segundos e minutos, quando projetados na imortal essência do sentimento; a mim, resta acreditar não nesta ilusão vendida de que as peças do quebra-cabeça que rege nossas vidas devem se encaixar com perfeição a partir do momento em que mantém o primeiro contato, mas sim na simetria de cada milésimo de segundo, no Yin-Yang de cada fenômeno que me cerca. E um deles é a simetria que encontro com o que vos escrevo, pelo simples fato de ser a projeção do que sinto; pelo simples fato de isso ser uma projeção do que as palavras sentem por mim."

Escrevi isso em um dia qualquer, meio que sem pensar no assunto. Ao parar para ler isso mais uma vez, descobri que pouco - ou nada - falo do que abordo: os opostos, "dois lados da moeda", sua razão de existir e sua convivência. Mais especificamente, eu, o que eu deveria ser e a convivência desses dois caras no mesmo corpo.

Há muito dentro de mim que detesto. Há uma parte que amo, e essa, Deus me perdoe, não merecia metade do que tem. Comete erros a esmo, não aprende com eles e raramente se dá por satisfeita. Esse cara é um romântico à moda antiga, da pior estirpe, que idealiza tudo, sofre por tudo e, paradoxalmente, esquece tudo rapidamente... quebrando, depois, a cara pelo mesmo erro cometido. Imagino eu, esse pedaço de mim é mais conhecido que o seu oposto, seu Yang. Um exemplo de decência, responsabilidade e amor próprio, minha outra metade só transparece em momentos de ódio intenso, calando-se no exato momento em que ouve uma palavra de carinho - voltamos, então, à versão abestada do mesmo homem, que comanda seu (in)consciente 90% do tempo.

Sei que é normal odiar um pouco de si, resmungar sem rédeas sobre o que queria mudar e não consegue. Mas se há uma coisa que não consigo mudar, é a minha essência, essa responsável por tudo, por cada metade de mim. Não sei se deveria estar feliz por isso, mas que essência fraca eu tenho... Quanta fragilidade, sentimentalismo e incapacidade de racionalizar os fatos! Quando menciono que há quem acredite na perfeição das coisas, falo de mim, o homem que não aceita a realidade mesmo quando ela grita, profusa, aos seus olhos. Quando falo de palavras, falo de mim e da minha sensação de incompletude, necessidade de estar sempre apoiado em algo para atingir um estado de coerência ao mundo. É como se a frase que deveria ser no papel, fosse composta por apenas uma palavra, e a cada rabisco novo, descobrisse mais razões para permanecer monossilábico, romanticamente enclausurado na subjetividade de quem não possui nada de objetivo a comunicar.

A simetria de cada segundo, enfim, é essa (até agora) frustrada batalha que travo comigo mesmo, com minhas palavras e devaneios, em busca de uma essência nova para este homem quase-feito, que em breve terá de ser um texto enxuto, articulado e compreensível para os leitores deste pobre mundo. Eu sou minha própria fraqueza: seu meio e fim, sua própria razão e sentido. E não há pedaço de mim que seja mais identificável com tal situação quanto aquele jovem idealista, fraco e inconsequente. Que vence a batalha - e vangloria-se esbaldando-se em poesia e rimas pobres - simplesmente por não comparecer a ela. Simplesmente por tê-la vencida, de antemão, pela essência covarde e sonhadora que permeia a convivência entre os tais dois lados da mesma jovem moeda.

Pessoal demais. Entendo que ninguém consiga entender. Obrigado pela presença no blog, mesmo assim... espero estar em melhor forma no próximo texto.

2 comentários:

Anônimo disse...

é, grande parte eu entendo...

Anônimo disse...

you're irreplaceable...