sábado, 17 de dezembro de 2005

O Que as Mãos Não Seguram - A Redoma de Papel Pt.2


Queremos voar em espírito,nos livrar das presilhas,eu sei : embora nossos corpos insistam em se fixar nesse solo batido,nessa realidade monocromática.Eu sinto em nós dois a vontade de ser algo mais do que extremos,mas o que podemos fazer?

Alçar vôo com as asas em chamas?
Nem sequer temos para onde ir.

Queremos fazer um do outro um escudo,mas só nos ferimos : talvez as mãos não estejam segurando firme,talvez o ombro em que choras não seja sincero.Eu sinto em mim o medo de ser assim tão seu,tão dono de mim e,ao mesmo tempo,tão escravo de meu coração.

Devo eu encarar teus olhares como o aviso de quem ama?
Sinais que não tens vontade de seguir o meu caminho?

Não faça piada de minhas esperanças,não cubra teus olhos com a mesma venda de desconfiança.Eu posso te levar daqui,fazer de teus sonhos uma realidade intensa,uma certeza imensa de que não há para onde fugir...porque não precisarás fugir.Veremos que,debaixo de tantos metros de concreto lapidados no teu coração existirá uma vontade de fazer surgir de nossas cinzas do passado uma força para lutar alados.

Talvez opostos em sentimento,mas espelhos diante do tempo.

Queremos não ser mais iguais,mas tentaremos não ser diferentes.Juro a ti que buscarei eternizar o que fostes dentro de mim,enquanto busco uma forma de te levar para a frente sem te distorcer.Desejas voar livre,mas ainda teima em fingir

Que as asas que te dei são frágeis contra o vento
E que nem mesmo o tempo te fará descobrir o que és.

Mas não me diga que me ama,enquanto ainda me chama daí,de dentro da mesma redoma,me dizendo que ainda não pode sair.Como posso eu,tão fraco diante de um espelho,olhar em teus olhos e te forçar a socar as paredes?Não te forçarei a lutar enquanto não tiveres vontade de se libertar,de fugir.

Devo eu tentar me aproximar das chamas
E tentar atravessas para o outro lado e cair na mesma sina
de ser escravo dos meus medos?

Não encontre nas mentiras as melhores lembranças,eu sei : ainda vês as metades invertidas.Não confie nos pedaços do espelho se a mim quiseres ver dentro de ti.Ainda estou sorrindo,mas será que com esses sorrisos não irei te atingir?O que as mãos não seguram são essas brisas que o tempo me traz.Esses DeJa Vus disfarçados em memória que mal consigo reunir e formar deles uma história.Me diga aonde ir.Se for para te encontrar como fostes,busco enquanto esses olhos refletirem vida.Não me permito tropeçar : mas pretendo,desses pés,me despir.

Queremos apenas paz.Salvar-nos do que fazemos de mal a nós mesmos,laçar nosso desatino e queimá-lo,olhando das chamas surgir o carinho.Dar ao corpo um sustento,alimento para a imaginação a dar aos olhos o fascínio.

Alçar vôo com o corpo e deixar a alma para trás?
Isso é que desejaria em teu domínio!
Quero meu espírito suspenso no ar.

Quero que o tempo não me trace caminhos.

E esse é o meu conflito : te ter morta,tragada e engolida na redoma,mas não ter vontade de ir te buscar.Os sentimentos já não fazem de meus olhos espelhos,a minha alma já não está encarcerada.Quero-te fora,quero-te livre,quero-te longe do solo batido.

Mas não me diga que estás segura se tens aonde pisar
Nossas asas em chamas te levam aonde quiseres ir.
Teu caminho se abriu,longe de onde estás.Pretendes da redoma sair?

Lembre-se : não adianta ter nas entrelinhas teu levante secreto
Se nesse mundo que te deram tens as mãos laçadas pelo eterno conflito
De querer o perfeito para si.

José Augusto Mendes Lobato 17/12/05

Um comentário:

Luiz Mário Brotherhood disse...

cacete guto eu não sei como tu consegues escrever tão bem cara
parabéns mesmo

tá ótimo o texto